domingo, novembro 10, 2024

o que está a acontecer - os que partem

 1.ª parte «Sarita» I. «Novembro, 3 / Trago ainda na memória a lembrança daqueles choros, ontem, no cais, na hora da partida. Aquela mulher que gritava: ai o meu Manel, que não o torno a ver! -- E os soluços dos filhos e o desespero da velha, que só dizia: coragem, rapariga! -- e chorava cada vez mais. / E o meu Manel, com um ar idiota, a olhar para o rancho da mulher, da mãe e dos filhos e sem saber o que lhes dizer.»» Joaquim Paço d'Arcos, Diário dum Emigrante (1936)

«Automaticamente os seus dedos nodosos iam enrolando novo cigarro, enquanto o ombro esquerdo procurava suporte no tronco rugoso dum sobreiro. / A casa tinha, agora, um penacho de fumo, fumo da tarde, do jantar -- algodão-em-rama que se desfazia, flutuante, translúcido, quase azul.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

1 comentário:

  1. «... Mortifiquei-me a procurar 'Camões, o verdadeiro'. A maior dificuldade esteve, de princípio, em remover o entulho debaixo do qual jazia sepultado. Até me arrojar, em seguida, a demolir os túmulos grandiosos, mas de todo bizantinos, das biografias, romanceadas com o propósito cândido de engrandecer o homem, supondo que melhor exalçavam o poeta, foi um drama. Ao fim de tudo, a minha convicção é que o 'Camões real', esse que viveu, amou, penou, está tão longe do 'Camões fabuloso' como o ovo dum espeto... »
    Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões" - Fabuloso*Verdadeiro. "Introdução". Ensaio (1950)

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