«Sempre que do portão se avizinhava mero turista ou descobridor de mistérios e o sino ficava longo tempo a retinir pela ribeira, ouviam-se pesados bate-lajedos de caseiro em movimento. / A história que o homem contava nada tinha de comum com a verdade. Era pura invenção de traz-no-bolso, lérias de almanaque recreativo para uso nos comboios do Minho.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
«Então, ele colocou a perna esquerda sobre a direita, e pôs-se a examinar a planta do pé -- os olhos atentos e o indicador tacteando. Era ali... / Do bolso do colete sacou o canivete, abriu-o e começou a tirar fatias de pele dura e gretada. Lá estava o maldito.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)
«Súbito, uma revoada de vozes escapou-se em surdina do âmago da igreja e derramou pelo claustros o clamor inquietante duma dolência arrastada. O murmúrio alteou-se, alastrou no silêncio, depois ficou suspenso no mesmo tom percuciente de lamentação e de queixume.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920)
«Coitado, lá estava a contas com o justo juiz, enquanto o Pólito continuava na Terra a passar a veniaga. Também lhe saíra caro, a junta das vacas, o melhor linhar, e a trutaria e a caça ferveram para a vila, que não houve tratante da justiça que não untasse a barbela. Dali, daquele poceirão de lama, ajudara numa manta de farrapos a deitá-lo para o carro, já estrume, a feder a mortulho, mal as autoridades da vila, a tapar o nariz com lenços de cheiro, lhe vieram soprar ao rabo para dizer: está bem morto! Paz à sua alma, padre-nosso e ave-maria…»
ResponderEliminarAquilino Ribeiro, "Terras do Demo". Romance. (1919)