«Agosto, 14 [1961] / Na esplanada do George V, às 6 da tarde. Esta sensação de estar "aqui", no centro vital (e mundano) da Grande Cidade, não encontra fundura ou medida para compará-la com qualquer outra que nos possa advir não importa em que solene paisagem ou ponto geográfico do mundo. Vivemos a vida em cachão, no cume das ideias e dos sentimentos.» .../... António de Cértima, Doce França (1963)
«JANEIRO O Bernardino Machado telegrafa-me de Madrid, onde se tem eternizado: "Fica aí? Cumprimentos". Este telegrama põe-me fora de mim. Assim este homem não tem outra coisa a dizer-me depois do que se passou! Se fico aqui? Onde quer ele que eu fique?» João Chagas, Diário - 1918 (póst., 1930)
«Junho, 6 [1948] - Terminou há dias a longa e dolorosa agonia de Eduardo Benes. / A notícia, embora esperada, deixou-me triste. Senti, verdadeiramente, que se apagara uma luz forte nos horizontes daquela Democracia, que julgo ser a única solução para as prementes necessidades humanas, nesta encruzilhada demoníaca que é a vida dos nossos dias.» .../... Vasco da Gama Fernandes, Jornal (1955)
PARIS/MCMXIV
ResponderEliminarQUARTA-FEIRA,
23 DE SETEMBRO
«Sou estrangeiro, mas sinto a guerra como qualquer alma que esteja em espasmo, suspensa aos ruídos que chegam dos campos de batalha, interessado não pelo êxito deste ou daquele beligerante, mas dolorido sobre os infelizes que matam e morrem. Sinto-a e, ao mesmo tempo que tenho náuseas do mundo, toda se confrange em dor inútil e impotente a minha humanidade. Vou-me embora, vou fugir do adorado Paris, de tudo o que esta terra mimosa dava à farta ao gosto que tenho pela vida. Vou para a aldeia, antípoda da capital excelsa, vegetar, dormir, esquecer, pondo apenas a cabeça de fora a saber se já terminou o horrendo ataque de epilepsia universal.»
Aquilino Ribeiro, "É A GUERRA-Diário", (Paris, 1914). Publicado em 1934.