quinta-feira, maio 30, 2024

caracteres móveis II - A SELVA

I «Fato branco, engomado, luzidio, do melhor H. J. que teciam as fábricas inglesas, o senhor Balbino, com um chapéu de palha a envolver-lhe em sombra metade do corpo alto e seco, entro na "Flor da Amazónia" mais rabioso do que nunca.» Ferreira de Castro, A Selva (1930)  A vila «13 de Novembro. / Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste... / Uma vila encardida -- ruas desertas -- pátios de lajes soerguidas pelo único esforço da erva -- o castelo -- restos intactos de muralha que não têm serventia: uma escada encravada nos alvéolos das paredes não conduz a nenhures.» Raul Brandão, Húmus (1917) «Há em Lisboa um pequeno número de restaurantes ou casas de pasto [em] que sobre uma loja com feitio de taberna decente se ergue uma sobreloja com uma feição pesada e caseira de restaurante de vila sem comboios.» Fernando PessoaLivro do Desassossego por Bernardo Soares (póst., 1982)


1 comentário:

  1. «...Era integralmente um santo homem, convencido da fatuidade do bem e do mal, de quanto o esforço humano é vão, e de que tudo à superfície da terra, a começar pela ciência e a arte, é uma espuma falaz. No entanto a sua posição, sob o ponto de vista de cidadenia, era a de combatente duma barricada. Desde que o conheci, e foi durante uma década de anos, não dei conta que se arredasse do parapeito. Batia-se pelos desgraçados, pelos humildes, pelos tristes, pelos que tinham fome e sede de sol, de simpatia ou de pão, simbolizados na mulher da esfrega, na Candidinha malfadada; batia-se e sofria pelos próprios maus, vítimas duma sociedade iníqua e duma nefasta sina sem remissão. A sua gesta no livro, na palestra, era a dum revoltado.»
    Aquilino Ribeiro, " Camões, Camilo, Eça e Alguns Mais" "Perfil Breve de Raul Brandão" (1949)

    ResponderEliminar