sábado, junho 22, 2024

caracteres móveis I - VIÚVAS DE VIVOS

«1- Escolhera o mestre do barco aquela noite negra, para que a Lua não assistisse à largada. Também não compareceram as estrelas, com grande contentamento do velho João Frade, posto lhes quisesse muito, mas no alto, em plena derrota, para conversar com elas  sobre coisas noutros tempos acontecidas, já que sem idade para sonhar com vida nova.» Joaquim Lagoeiro, Viúvas de Vivos (1947)

«1. Empurrados do interior, os povos buscavam o litoral na esperança de uma mandioquinha, de um caldinho de peixe, de uma cana para chupar, ou de folhas verdes para mastigar. Qualquer coisa que lhes desse, ao menos, a ilusão de alimento.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

«RanchoIa já para três dias  que o tractor parara e a regadeira não via pinga de água trasfegada do Tejo. / O arrozeiro, apertado pelo patrão, andava numa dobadoura, por marachas e linhas, a deitar olho aos canteiros de espiga mais loira, fazendo piques, agora aqui, agora ali, para que as águas fossem caminhando para a vala de esgoto e os ranchos pudessem meter foices no arrozal.» Alves Redol, Gaibéus (1939)  

1.ª parte «Sarita» I. «Novembro, 3 / Trago ainda na memória a lembrança daqueles choros, ontem, no cais, na hora da partida.» Joaquim Paço d'Arcos, Diário dum Emigrante (1936)  1.ª parte - I. 

«Preta e branca, preta e branca, o preto mui luzidio e muito níveo o branco, a pega, de cauda trémula, inquieta, saracoteava entre carumas e urgueiras, esconde aqui, surge ali, e por fim erguia voo até a copa alta do pinheiro, levando no bico ramo seco ou graveto.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)  

2 comentários:

  1. Memória e actualidade
    da obra de Ferreira de Castro

    https://www.pcp.pt/publica/militant/238/p47.html

    Por Urbano Tavares Rodrigues

    ResponderEliminar
  2. Joaquim Lagoeiro, "Viúvas de Vivos" (1947)
    (Veiros, Estarreja, 1918 – Lisboa, 2011)
    Ver:
    https://www.museudoneorealismo.pt/acervo/espolios-literarios/joaquim-lagoeiro-67

    ResponderEliminar