conservador-libertário, uns dias liberal, outros reaccionário.
um blogue preguiçoso
desde 25 de Março de 2005
terça-feira, novembro 07, 2023
caderninho - Marco Aurélio
«Tal como te parece o banho que tomas: óleo, suor, gordura, uma água turva, todas as espécies de sujidade: tal é qualquer parte da vida, tal é qualquer objecto dado.»
(...) «Outra acusação que vejo fulminar contra tal e tal escritor é de que usa termos raros. Termo raro é aquele que não emprega a peixeira nem o contínuo da repartição e determina, se não sintetiza, a matéria que se ignora ou em que a ignorância do leitor, "tout court", tropeçou. É evidente que ninguém é obrigado a meter todo o dicionário na pinha. Mas seria absurdo que o leitor vulgar de Lineu -- engenheiro, arquitecto, comerciante, político, amanuense, professor de dança, entregues a actividades que têm um vocabulário próprio -- culpasse o autor, cuja lavra é a língua, de conhecer mais palavras do que ele, e aqui, além, o obriga a ir ao léxico, a tirar o significado da palavra pelo sentido ou simplesmente a fazer cruzes na boca. A leitura, de resto, pode ser e é uma forma de ensinança sem deixar de ser uma diversão. De modo que a palavra estranha ou ignorada é na leitura como o monumento que o turista encontra no seu caminho e visita se é curioso. Só na nossa terra, sem nenhuma espécie de alfândega mental, se arvorou o princípio de que se escreva apenas com termos que sejam acessíveis ao vulgo.»
Aquilino Ribeiro, "Solilóquio Autobiográfico Literário" (1960). Manuel Mendes, "Aquilino Ribeiro-a Obra e o Homem".
(...) «Outra acusação que vejo fulminar contra tal e tal escritor é de que usa termos raros. Termo raro é aquele que não emprega a peixeira nem o contínuo da repartição e determina, se não sintetiza, a matéria que se ignora ou em que a ignorância do leitor, "tout court", tropeçou. É evidente que ninguém é obrigado a meter todo o dicionário na pinha. Mas seria absurdo que o leitor vulgar de Lineu -- engenheiro, arquitecto, comerciante, político, amanuense, professor de dança, entregues a actividades que têm um vocabulário próprio -- culpasse o autor, cuja lavra é a língua, de conhecer mais palavras do que ele, e aqui, além, o obriga a ir ao léxico, a tirar o significado da palavra pelo sentido ou simplesmente a fazer cruzes na boca. A leitura, de resto, pode ser e é uma forma de ensinança sem deixar de ser uma diversão. De modo que a palavra estranha ou ignorada é na leitura como o monumento que o turista encontra no seu caminho e visita se é curioso. Só na nossa terra, sem nenhuma espécie de alfândega mental, se arvorou o princípio de que se escreva apenas com termos que sejam acessíveis ao vulgo.»
ResponderEliminarAquilino Ribeiro, "Solilóquio Autobiográfico Literário" (1960). Manuel Mendes, "Aquilino
Ribeiro-a Obra e o Homem".