Um ilustrador italiano, Stefano Morri, com alguma ingenuidade, quase disneyesca, ao realizar a encomenda do Vaticano para a celebração filatélica das Jornadas Mundiais da Juventude, lembrou-se do Padrão dos Descobrimentos e daquele belíssimo conjunto escultórico de Leopoldo de Almeida -- e vai de pôr o papa Francisco no lugar do agora infame D. Henrique, e um conjunto de miúdos no encalço com a bandeirinha republicana de Portugal. "Estado Novo!", gritaram os iletrados das ciências moles. O autor, italiano, repete-se, é de um país que tem mais arte e história num beco do que o todo o rectângulo da parvalheira nacional. Há ingenuidades que acabam nisto.
A Igreja, medrosa, retirou o selo, em que não faltou um bispo zeloso a fazer de progressista acompanhando aquele idiota que há tempos, para ser falado, atirava com a demolição do monumento. Por mim, está na altura de pô-lo na barra lateral, não só para chatear, mas porque gosto mesmo daquilo.
Concordo quando diz que em Itália há mais arte num beco do que em Portugal no país todo. Todavia, discordo em toda a linha no resto.
ResponderEliminarMeu caro,
ResponderEliminarMuito agradeço o comentário e também a discordância. Isto mereceria várias precisões, mas não estou em condições para o fazer hoje. Mas a questão é conhecida, ou seja: a forma anacrónica como olhamos para a História. Nenhum historiador digno desse nome a apaga ou enaltece; a História é guerra, sangue, vileza, mas também heroísmo, glória e, sobretudo, circunstância. Os chamados (e bem) Descobrimentos são isso tudo, e tudo deve ser aclarado, revelado: da epopeia náutica ao tráfico de escravos.
Pessoalmente, tenho sangue negro, uma bisavó mulata brasileira, o que significa 99% de possibilidades de ter antepassados escravos; como também tenho antepassados ligados ao mar (como tantos de nós), gosto de pensar que sou um concentrado disso tudo.
Desculpe ser telegráfico, e sem quere dar-lhe uma injecção, deixo-lhe bocados da minha forma de ver a questão, com muito lastro inútil á mistura
https://abencerragem.blogspot.com/search?q=descobrimentos
Talvez me tenha precipitado com "discordar em toda a linha", pois não sou desses higienistas da historiografia,e muito menos quero deitar abaixo monumentos. Todavia, considero a "arte" do selo em questão de muito mau gosto. Quero acreditar que o Vaticano tivesse uma equipa que estivesse em estreita ligação com o autor da "arte". Aliás: quero acreditar também que nessa equipa estivesse envolvido um ou outro "cura" português. E a organização da JMJ? Não foi tida nem achada? Se foi e disse "lindo!", ainda é mais grave.
ResponderEliminarA mim, o que me causou estranheza foi o facto de, no país das artes e dos grandes artistas, a Igreja se ter socorrido de um fulano que se limitou a pouco mais que umas colagens da imagem do Padrão dos Descobrimentos com a capa do livro da minha 3ª classe! Isso é que não consigo entender.
ResponderEliminarManuel A. Domingos - É uma coisa ingénua, que não justificava tanto alarido, tanto mais que duvido que o artista soubesse o que estava a invocar. Como já ouvi dizer, parece um dos desenhos do meu livro da 3.ª classe.
ResponderEliminarFernando -- Só depois da resposta acima vi que se referiu ao mesmo livro. Pois, não o conheço, nem vi nada que me impressionasse.