quarta-feira, fevereiro 08, 2023

antologia improvável #491 - Cristóvão de Aguiar


 tuas palavras de aço


tuas palavras sempre foram de aço

temperado no miolo da fogueira

do teu corpo escorria a forja -- baço

o destino sem sol nenhum na eira.


foste dando sinais de algum cansaço

nas palavras não -- estavam sempre à beira

de se erguerem com asas de estilhaço

e varrida ficava toda a feira.


quis então o mar entrar no enredo

o mar ou quem por ele fez bruxedo

de mudar sonhos velhos em novas botas.


das palavras conservo as cicatrizes

se me perguntam digo são varizes

da minha solidão de velhas rotas.

Sonetos de Amor Ilhéu (1992)

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