quarta-feira, fevereiro 27, 2008

estampa CXXVIII

Aurélia de Sousa, Auto-Retrato
Colecção particular, Porto

4 comentários:

  1. que bonito é tão diferente do outro auto-retrato dela
    (mas ao mesmo tempo é mto igual)

    conheces o poema sobre o outro auto-retrato dela, escrito pelo

    José Manuel Teixeira da Silva?

    ResponderEliminar
  2. Formidável, não é? Será o seu primeiro auto-retrato.
    Não conheço. Onde pára?

    ResponderEliminar
  3. aqui:P

    Aurélia de Sousa na varanda sobre o Douro

    É como quem se olhasse
    num auto-retrato antigo e fluente
    Ela sabe, como eu, da abatida constelação da casa
    mas enfrenta-me, acabou de nascer
    e abre imensamente os olhos
    A névoa abraça-nos até ao osso
    respira no ferro e no granito sob todas as mãos
    Estranham-me a paixão dos retratos impassíveis
    não sabem como visto
    numa sombra perfeitamente de mim
    a cidade que parti e não conheço
    e nem sequer posso esquecer
    Gestos soltos noutra varanda, ao fim da mesma tarde
    entre escadas e o cais e o ar e o mar
    Ela sabe, como eu, tudo desta casa
    mas não pára de me encarar
    tudo, edificação de sombras lentamente sobre sombras
    o frágil furacão que vai ficando
    Estranham-me a roupa escura e os olhos claros
    o camafeu que disfarça os dois seios
    sim. eles estão cá, inteiros, e apenas sou
    a mulher que passa pelos pátios
    Por mim, distraem-me os mínimos trabalhos
    certa jardinagem, grades sobre rendas
    Algo sopra dos fundos dos quartos
    fecha as janelas, murmura versos que não possas viver
    Mas ela pinta intensamente e se assim te debruça
    atravessa-te toda a água do rio
    o espelho inteiro da tua vida

    José Manuel Teixeira da Silva

    ResponderEliminar