É como quem se olhasse num auto-retrato antigo e fluente Ela sabe, como eu, da abatida constelação da casa mas enfrenta-me, acabou de nascer e abre imensamente os olhos A névoa abraça-nos até ao osso respira no ferro e no granito sob todas as mãos Estranham-me a paixão dos retratos impassíveis não sabem como visto numa sombra perfeitamente de mim a cidade que parti e não conheço e nem sequer posso esquecer Gestos soltos noutra varanda, ao fim da mesma tarde entre escadas e o cais e o ar e o mar Ela sabe, como eu, tudo desta casa mas não pára de me encarar tudo, edificação de sombras lentamente sobre sombras o frágil furacão que vai ficando Estranham-me a roupa escura e os olhos claros o camafeu que disfarça os dois seios sim. eles estão cá, inteiros, e apenas sou a mulher que passa pelos pátios Por mim, distraem-me os mínimos trabalhos certa jardinagem, grades sobre rendas Algo sopra dos fundos dos quartos fecha as janelas, murmura versos que não possas viver Mas ela pinta intensamente e se assim te debruça atravessa-te toda a água do rio o espelho inteiro da tua vida
que bonito é tão diferente do outro auto-retrato dela
ResponderEliminar(mas ao mesmo tempo é mto igual)
conheces o poema sobre o outro auto-retrato dela, escrito pelo
José Manuel Teixeira da Silva?
Formidável, não é? Será o seu primeiro auto-retrato.
ResponderEliminarNão conheço. Onde pára?
aqui:P
ResponderEliminarAurélia de Sousa na varanda sobre o Douro
É como quem se olhasse
num auto-retrato antigo e fluente
Ela sabe, como eu, da abatida constelação da casa
mas enfrenta-me, acabou de nascer
e abre imensamente os olhos
A névoa abraça-nos até ao osso
respira no ferro e no granito sob todas as mãos
Estranham-me a paixão dos retratos impassíveis
não sabem como visto
numa sombra perfeitamente de mim
a cidade que parti e não conheço
e nem sequer posso esquecer
Gestos soltos noutra varanda, ao fim da mesma tarde
entre escadas e o cais e o ar e o mar
Ela sabe, como eu, tudo desta casa
mas não pára de me encarar
tudo, edificação de sombras lentamente sobre sombras
o frágil furacão que vai ficando
Estranham-me a roupa escura e os olhos claros
o camafeu que disfarça os dois seios
sim. eles estão cá, inteiros, e apenas sou
a mulher que passa pelos pátios
Por mim, distraem-me os mínimos trabalhos
certa jardinagem, grades sobre rendas
Algo sopra dos fundos dos quartos
fecha as janelas, murmura versos que não possas viver
Mas ela pinta intensamente e se assim te debruça
atravessa-te toda a água do rio
o espelho inteiro da tua vida
José Manuel Teixeira da Silva
Obrigado Lebre, gostei muito!
ResponderEliminar