segunda-feira, dezembro 17, 2007

Antologia Improvável #274 - Jorge de Sena (3)

SONETO DO ENVELHECER

Cabelos vão no pente e no dentista os dentes
como eles um a um se vão sumindo todos.
Os ombros e a barriga se descaem flácidos,
as unhas se endurecem como cascos rijos.

No rosto as rugas tecem seu desenho absurdo,
destruindo algum sinal de juvenil imagem.
Os óculos se engrossam e nos ouvidos surdos
as vozes se confundem e os ruídos nelas.

Andando os pés e as pernas tornam-se inseguros,
tal como as mãos incertas e como eles frias.
A voz é um cristal sujo. E dentro da cabeça
memória e pensamento não se ligam mais.
Mesmo o mijar se torna um interrompido acto
tal as ideias soltas que se esquecem bruscas.
SB, 28/2/74

40 Anos de Servidão

4 comentários:

  1. arrepiante ;)

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    fica ao critério do Ricardo.
    alguns optaram por poemas, versos, algumas palavras, outros desenvolveram mais...
    em principio só para meados de Março...entretanto eu aviso.
    um abraço.

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  2. Pior é esquecer o que está perto, só vivendo no que há muito passou. As ideias que se esquecem vêem o ligar tomado pelas memórias que se aquecem.
    Ab.

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  3. É bem verdade, meu caro.
    Abraço também.

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