quinta-feira, maio 04, 2006

Escrever na areia - A falar fininho

O índio Morales resolveu, como presidente democraticamente eleito da Bolívia, ter uma palavra a dizer sobre a exploração dos recursos naturais do seu país. Os governos dos estados a que pertencem as empresas visadas mostraram uma natural preocupação pelo ditame do Cocalero. Mas, como é óbvio, estão a dialogar, no que são acompanhados -- de acordo com as últimas notícias -- pela Petrobras e pela Repsol, que já fizeram saber da sua aceitação de princípio das reivindicações bolivianas.
Decisão politicamente legítima, embora controversa, foi acolhida entre nós com aquela histeria a que nos habituaram alguns plumitivos esportulados. Cheguei a ler que era uma medida que retirava «credibilidade» ao país, dificultando a atracção do investimento estrangeiro... Ora a Bolívia, que não é propriamente o Canadá, ou sequer a Argentina, nunca até agora foi particularmente conhecida pela credibilidade... Mas para os escreventes amestrados, que não sabem ver para além da sua carteira de títulos, todos os particularismos -- como a circunstância de grande parte daquela população viver em extrema pobreza, independentemente dos governos credíveis e amigos das empresas que tem conhecido ao longo das décadas -- são irrelevantes. Há que debitar pela cartilha, com autoridade e voz grossa.
As multinacionais, como não podem deslocalizar o subsolo boliviano, contemporizam, que remédio!, pelo menos até o índio Morales ser apeado ou comprado. Mas, para já, comove vê-las a falar tão fininho...

6 comentários:

  1. Quando os rendimentos do gás forem transferidos para a conta bancária desse traficante de droga apagas o "post". O ter sido democraticamente eleito só me faz detestar mais a democracia.
    Ab.

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  2. Rapaz: O post não tem nada que ver com as qualidades morais do nosso amigo Evo. Não sei se ele é, como tu dizes, traficante de droga; aliás nem lhe conheço a biografia, só sei que tem origens humildes. Se o caso dele é o de milhares de camponeses na América Latina ou na Ásia que tiram o seu sustento da coca ou da papoila, não chega para lhes chamar traficantes. Mas, enfim, quanto ao presidente da Bolívia, o post prevê, prudentemente, todas as possibilidades futuras...
    (Já agora, um parênteses de meditação, não tenho mais respeito por criminosos como o Rumsfeld, o Cheney ou o Putin, do que por um traficante como, por exemplo, o Noriega).
    Falta-me é paciência para estes escrevinhadores aleivosos que vêm falar da quebra de respeitabilidade que medidas destas, de política económica, acarretariam, com o consequente afastamento do investimento estrangeiro. Do ponto de vista da Economia, não faltará quem critique, quem defenda, quem veja vantagens e desvantagens; mas quanto à condução política daquele país paupérrimo, parece-me elementar que o governo tenha o direito de dispor dos seus recursos...
    Eu gostava é que esses analistas de bolsa de valores, que vêm para aí vender peixe cheios de jargão, me respondessem: mas alguém respeitava a Bolívia até aqui?...
    Quanto aos teus ódios antidemocráticos, o que me consola é que não és dado à acção, senão ainda te via mudares de armas e bagagens para monarquias absolutas como a Arábia Saudita ou a Coreia do Norte... (Ouve lá: os meus amigos americanos e os também meus amigos indianos tiraram o tapete ao sereníssimo Gaynendra. Tens a minha solidariedade. Os Himalaias só têm piada com reis. O Nepal e o Butão republicanos... cauchemar!... Para maoista já basta o pobre Tibete (Free Tibet!)
    Abraço também.

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  3. Rapazes, é que nunca os dois se entenderão politicamente falando. :)
    Eu cá estou do lado do Ricardo, em especial quanto ao Tibet. Já no caso boliviano, apenas temo que a História se repita e esta tentativa heróica de autonomia seja Sol de pouca dura.
    Abraços

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  4. Oh João, meu caro, já é uma tradição secular ElE discordar de mim... Quanto ao Morales, que sei eu? Só me aborrecem os comentaristas, alguns comentaristas dos jornais, com demasiadas certezas... Outro abraço.

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  5. Onde isto foi parar. Era sobre o criminoso Morales, aquele que protegeu os assassinos de três polícias, comerciantes de droga. E foi parar ao Nepal, diga-se, dos poucos países onde os EUA ainda não têm influência! Por falar nisso, se eu sou amigo dos norte-americanos, com tudo o que tenho dito deles, devem estar a rezar para terem muitos... inimigos.
    Mas voltando ao criminoso comum Morales: lado de que ele esteja ver-me-á do contrário. As plantações de coca merecem um único futuro: o napalm e não o Nepal. E não dou um chavo pela vida dessa canalha que, para sobreviver, explora a fraqueza da nossa juventude e a destrói. Sempre obedeci ao ideal de defender os fracos da acção dos maus. E não me venhas dizer que é tudo mais complicado. Não é. É tão simples como isto.

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