quarta-feira, novembro 28, 2018

feias, porcas e más: as televisões privadas como retretes públicas, das antigas, ou saudades da RTP do tempo do fascismo

A sic e a tvi são detentoras de uma concessão, por parte do Estado, ou seja, de todos nós, do sinal de emissão do serviço de televisão. Mais de 90% da programação daquelas estações é má ou muito má. A informação da tvi é superior à da sic; esta tem um grande momento aos sábados, ao fim da manhã, com a transmissão dos documentários da BBC sobre vida selvagem. Quanto ao resto, concursos, telenovelas, parvoíces. Mesmo os canais informativos são pobres, salvam-se alguns programas de debate ("Quadratura do Círculo" e "O Eixo do Mal" na sic; "Prova dos Nove" e "Governo Sombra" na tvi). É muito pouco. 
Mas o que me espanta, perante a indiferença geral, é o à-vontade e a impunidade com que ambas as estações generalistas poluem o espaço público com inanidades e badalhoquices, dos talk shows matinais, em que apresentadores idiotas expõem ao voyeurismo mais grosseiro os infortúnios deste e daquela, até à promoção da mais vulgar boçalidade com os "Casados de Fresco" ou o "Love on Top", -- enfim o esterco despejado em casa das pessoas, quantas vezes com a justificação cínica e vigarista de que é daquilo de que elas gostam (ou até precisam...).
Não falo na cm-tv, a mais ampla cloaca comunicacional, pois está no cabo, e aqui, outros problemas se levantam. O que mais me incomoda, embora não me espante, é a passividade do Estado diante do oportunismo descarado dos operadores, da falta de ética e doutro critério que não seja o de gerar lucro, lançando mão de tudo o que lhe for permitido. 
E pergunto: mas por que diabo devemos nós, e connosco o estado português, que atribuiu as concessões a estes operadores, contribuir para encher os bolsos aos donos e accionistas da sic e da tvi, cuja contrapartida pelo bem público de que se servem é o de espalhar os seus dejectos comunicacionais pelas casas dos portugueses e pelas nossas ruas, através dos painéis publicitários?

Ainda sou do tempo em que as casas de banho públicas das estações da CP do Cais do Sodré e do Rossio eram um antro de porcaria, iam para lá os que gostavam de chafurdar ou os incautos que desconheciam o ambiente. Que haja quem queira fazer televisão com o nível de wc público de país incivilizado, é um problema seu; mas que beneficie do Estado, para o fazer, e que o mesmo Estado contribua, pela inacção, inconsciência, cobardia, para esta caca, isso é que é indesculpável.
Não sei quando se extinguem os prazos das respectivas concessões, mas aqui é que era uma boa oportunidade para a ministra Graça Fonseca introduzir um bocado de civilização, civilidade e civismo nestas pocilgas, ou retirar-lhes a licença para degradar.

7 comentários:

  1. O que me custa, mesmo, é ver que a RTP1 também vai pelo mesmo caminho...

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  2. Poderia e deveria ser muito melhor, mas é do Estado, e podemos sempre responsabilizar as administrações e os governos.

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  3. https://youtu.be/nCYkaZJ7lYw

    Poucas coisas vejo na televisão, a não ser na
    RTP Memória que têm qualidade. Gosto do Governo Sombra,
    porque muitas vezes tem humor que eu muito aprecio.
    Por isso o video que aqui trouxe retrata na perfeição,
    penso eu, a "qualidade" de alguns programas. Se há
    quem veja aquilo deve ser atrasado mental.
    Bom fim de semana.

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  4. Eu acho que os maiores atrasados mentais não são os espectadores, mas quem os trata como tal, dos apresentadores aos presidentes dos conselhos de administração, a base e o topo desta necrose. E seria até relativamente fácil acabar com isto, se houvesse alguma coragem política e algum bom senso prevalecesse -- o que quer dizer que é impossível acabar com isto, e a degradação irá em crescendo, até que alguma coisa complicada possa suceder.

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  5. Passei a minha infância agarrado à televisão, nesse tempo tínhamos num só canal a informação do regime, a censura e a ditadura, mas eram transmitidas boas séries britânicas, bom cinema, teatro, concertos, havia programas sobre poesia (David Mourão Ferreira) sobre livros (Manuel Poppe), sobre Música (João de Freitas Branco) e desenhos animados de muita qualidade, mais o Walt Disney. É certo que havia ainda as touradas e o futebol, mais outras coisas chatas, mas culturalmente batia por KO. as actuais programações dos nossos canais. É triste chegar a esta conclusão):
    Bom fim-de-semana!

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  6. Por KO, meu caro, por KO -- e isso é que é triste.

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