sexta-feira, setembro 30, 2016

Shimon Peres

Perez foi um dos políticos israelitas que mais admirei. A sua morte poderá ser, desgraçadamente, o remate de um longo processo de anomia em que decai o estado de Israel, um país com uma génese entusiasmante, das práticas comunitárias e libertárias dos kibutz; um país com todo o direito a existir, pátria histórica e efectiva dos judeus, mas sem direito algum a aprisionar os palestinos no seu próprio território.
Shimon Perez, um histórico do Partido Trabalhista, morre deixando o país num impasse que parece inultrapassável pelos cidadãos esclarecidos, tutelados por um governo liderado por um político sem princípios, aliado a racistas e religiosos, e cuja política criminosa dos colonatos ainda fará correr muita tinta, e sangue. 

quarta-feira, setembro 28, 2016

uma carta de Augusto Casimiro

Uma carta muito sentida de Augusto Casimiro, excelente poeta, homem de A Águia, figura marcante da vida cívica e cultural portuguesa, o segundo director da Seara Nova. Casimiro, combatente na Flandres, como o destinatário desta missiva, Maia Alcoforado, e o homem que a motivou, Nuno Cruz, camarada de armas na Grande Guerra de 14-18, e também naquilo a que ficou conhecido como o 'reviralho' -- a oposição democrática e republicana à Ditadura Militar e ao Estado Novo que ela originou.
(ler)

terça-feira, setembro 27, 2016

do 'suntuoso' aborto ortográfico

'Suntuoso', por sumptuoso, lido nas legendas do último episódio de Ainsi soient-ils, série aliás excelente, suntuosa, até, a passar aos domingos, na RTP 2).

domingo, setembro 25, 2016

só uma música

Paz (2002) é um óptimo disco de Eugénia Melo e Castro, excelente cantora, letrista e compositora. Todas as letras são suas, bem como quase todas as composições, em co-autoria com Eduardo Queiroz, que também produz. Paz é um álbum muito introspectivo e melancólico, e creio que esta última faixa, «Imagem», faz bem a súmula do conjunto. Ouvir todos os  7'26''.

quinta-feira, setembro 22, 2016

E tudo é como foi imperfeito / e a seu modo permanece
Soledade Santos

quarta-feira, setembro 21, 2016

Sócrates, Lula e os justiceiros

Se o comportamento da Justiça em Portugal, no que respeita a Sócrates e a outros, é a rebaldaria que se vê, independentemente das contas que terão a prestar (convém escrever sempre isto, para aplacar os masturbadores anti-Sócrates), no caso de Lula, a mesma Justiça (ahahah...) é infecta. Aquele procurador ainda consegue parecer mais estúpido do que o Ventinhas sindicalista.
Como é que o retirante salvo da fome e quase iletrado ousou?; como teve o topete na puta da sua vida de se tornar presidente do país que lhe dava a favela como destino?

segunda-feira, setembro 19, 2016

(no intervalo dos soluços do Prós e Contras sobre o 'burquíni')

Excelente, Inês Pedrosa; Miguel Vale de Almeida, as parvoíces do costume. 
Entretanto, a emissão teve um enfarte.
Adenda: André Freire, a tocar nos pontos exactos (conflitos de direitos, se é que de direitos se trata quando não há autonomia, e outros); Faranaz Keshavjee, o parti pris que não se assume, e mais não digo para não ser descortês.

microleituras

Conferência proferida por Joaquim Paço d'Arcos no Instituto Britânico, em Lisboa, a 30 de Novembro de 1954, data em que o estadista inglês completava oitenta anos.
O texto é esplêndido de informação, concisão e empatia do romancista português (um dos mais importantes da primeira metade do século XX) e essa figura titânica no imaginário contemporâneo, galardoada no ano anterior com o Prémio Nobel de Literatura, pelo conjunto da obra, em especial The Second World War, só então concluída. Galardão que, de resto, suscitou, desde então, várias perplexidades. Só que não seria o primeiro nem o último Nobel literário entregue a um não ficcionista: o historiador alemão Theodore Mommsen recebeu-o em 1903, e ainda no ano passado, a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich seria também distinguida.
A conferência, propriamente dita, é a resenha de um admirador português, escritor, conservador e colonialista no sentido histórico do termo, pontos de identidade com o homenageado.

início:
«MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES: / Convidado há muito pelo Instituto Britânico para pronunciar uma conferência nas suas salas hospitaleiras, só agora a minha vida pesada me permitiu retribuir, com a desvaliosa moeda da minha palavra, todas as atenções de que nesta casa tenho sido alvo.»

Autor: Joaquim Paço d'Arcos, Churchill -- O Estadista e o Escritor, Lisboa, s,d,

«Singapura»

Um vídeoclip do meu filho António para o EP de estreia dos Moda Americana.

sexta-feira, setembro 16, 2016

João Almeida,


com batatinhas fritas


(e um pratinho de hóstias consagradas)

uma carta de Vitorino Nemésio


Carta empolgante de Nemésio, com mais de meio livro lido, esse inovador Jogo da Cabra Cega, de Régio, acabado de publicar, e cujo destino seria o da apreensão. Empolgante, nem tanto pelo entusiasmo, contido por vezes, de Nemésio, mas pelo espectáculo que dá do scholar em acção judicativa -- esse mesmo que dez anos mais tarde faria aparecer um dos maiores livros da nossa literatura, Mau Tempo no Canal. Publicada pelo grande regiano que é Eugénio Lisboa, num livro de ensaios que é, também ele, um extraordinário testemunho de agudeza crítica, O Objecto Celebrado, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1999.

olha!, tenho um novo ídolo...

Jean Asselborn foi o primeiro político com responsabilidades na UE, creio, que disse o óbvio para as pessoas decentes: Hungria, fora! (basta uma quarentena, para desparasitar aquela porcaria; e, já agora, o governo polaco & outros assim). 

segunda-feira, setembro 12, 2016

pediste uma última, uma última vez o embuste / abreviado na quietude das traseiras de tua casa.

Amadeu Liberto Fraga

microleituras

Expulso da universidade pela repressão do salazarismo, antes de exilar-se no Brasil -- onde foi professor do bom embaixador José Aparecido de Oliveira, o pai da transviada CPLP --, Agostinho da Silva promoveu a edição de de livros e folhetos de difusão de um vastíssimo saber. Uma dessas iniciativas foi esta colecção «Antologia -- Introdução aos Grandes Autores», pouco mais do que folhetos na sua dimensão física, de periodicidade quinzenal, e cujo número avulso custava 1$20...
Fénelon (1651-1715 -- cuja ano de nascimento é o mesmo do nosso grande diplomata, historiador e memorialista José da Cunha Brochado), bispo de Cambrai, foi uma das mais notáveis figuras da Igreja no período barroco, numa França ainda exangue das Guerras de Religião e da Fronda. Ele próprio não fica imune à complicada heterodoxia religiosa do tempo, jansenismo, quietismo, tendo abraçado este último desvio, e posteriormente forçado a retractar-se, sendo desterrado por Luís XIV.
Deste Diálogo dos Mortos (1712), colóquios de ética política, dir-se-ia que ad usum delphini, em que são convocadas figuras mitológicas e históricas da Antiguidade, sobressai o escopo de de exaltação do bom governo do soberano, limitado pela lei e pelo bem-comum, ao arrepio do qual todo o poder se torna injusto, redundando em tirania. Muito apropriado nesses anos de chumbo em que Agostinho da Silva, idealisticamente, exercia a sua pedagogia.

primeiro diálogo:

«REMO -- Eis-te, enfim, meu irmão, no mesmo estado em que me encontro; para isto, não valia a pena teres-me matado. Acabaram os poucos anos em que reinaste; deles nada resta: e muito melhor os terias passado se tivesses vivido em paz, se comigo tivesses partilhado o poder.
RÓMULO -- Se tivesse tido essa moderação, não teria fundado a poderosa cidade que estabeleci, nem feito as conquistas que me imortalizaram.»

sábado, setembro 10, 2016

EUMed: tardar, mas (esperemos) arrecadar


Há anos que se fazia sentir a premência de algo como isto, em face da política alemã & satélites (cujo rosto é o miserável presidente do EuroGrupo), e a exemplo do que sucede com o Grupo de Visegrad, que agrupa os países da Europa Central que pertenceram ao ex-bloco soviético. Muito significativa é a participação da Espanha, embora não a alto nível, dada a situação política interna. 
Já não estamos em tempo do servilismo embaraçoso que caracterizava o anterior governo (as declarações do líder do PSD, a propósito desta cimeira, são bem reveladoras), nem de passarmos pela vergonha de termos um legume que representava o governo de Portugal que era conhecido pelo 'alemão'.
Sobre, veja-se aqui e aqui.  

só uma música

Headline News (1983), o último álbum dos Atomic Rooster, banda histórica do rock progressivo, que não sobreviveria à morte de Vincent Crane, sua alma mater. Escolho o tema inicial, Hold Your Fire, entre outras razões pelo tom melancólico de Crane. A guitarra parece a do David Gilmour, porque é do David Gilmour.

quinta-feira, setembro 08, 2016

O meu íntimo é uma catedral / que ninguém viu.
Alexandre Dáskalos

terça-feira, setembro 06, 2016

segunda-feira, setembro 05, 2016

Ficar no Euro, para quê?

Fui um entusiasta do Euro, tal como me considero um europeísta. Sendo economicamente iletrado, e considerando sempre o primado da política, achei, ingenuamente, que com a moeda única entraríamos numa nova fase da integração europeia, cada vez mais confederal.
A realidade, porém, está a pôr em causa toda essa visão, mais ou menos idílica que perfilhei -- como, de resto, a própria ideia de União Europeia, que nunca esteve tão em crise como hoje se verifica, com todos os perigos e retrocessos inerentes.
O enunciar da questão política, em face do Euro, é simples, na sua complexidade extrema... Como diz Stiglitz, e como o disseram João Ferreira do Amaral e outros, desde o início, Portugal não tem economia para sobreviver num contexto de  Europa alemã. Ora esta existe e exerce-se porque a Alemanha e satélites impõem esta política económica, independentemente -- tem-no demonstrado -- dos cataclismos políticos que origina por essa Europa fora.
Se a nossa economia está "condenada" dentro do Euro, e se a potência económica hegemónica na UE não quer cuidar do que na UE se está a desmoronar, ficar no Euro, para quê?... Para estagnarmos economicamente, sem instrumentos essenciais para inflectir o caminho de degradação? E em nome de quê? Da política europeia que é, na verdade, uma política alemã ciosa dos seus bons resultados? A não ser que queiramos ser uma população exportadora de cérebros, formados, aqui; subsidiados mais ou menos vegetantes; empregados de mesa, servindo, com profissionalismo, os reformados da Europa do norte.

P.S. - Não quero dizer que a União Europeia não seja algo por que valha a pena lutar -- e muito. Mas, infelizmente, os seus dirigentes já deram mais do que prova de ausência de reacção (ou reacção desrazoável e/ou timorata), que, oxalá me engane, será fatal: Grécia, refugiados de guerra, derivas xenófobas e racistas em países da Europa Central.
Quem poderá ainda acreditar nisto?... 

domingo, setembro 04, 2016

quinta-feira, setembro 01, 2016

O que faltou, noite após noite, / foi exactamente a poesia.
Manuel de Freitas