segunda-feira, fevereiro 29, 2016

50 discos: 42 - TAMBÉM EU (1982) - #1 «Salvé Maravilha»


microleituras

Uma iniciativa inteligente da Direcção-Geral da Cultura / Norte, por volta de 2003: a edição de uma espécie de roteiros dos grandes escritores da região, a partir dos seus textos em que se abordassem, além das raízes próprias, os patrimónios material e imaterial. 
A mim coube-me o Ferreira de Castro, que tive de encaixar, tal como sucedeu com os outros autores, em quatro capítulos: «O Homem, o Escritor», «Espaços de Inspiração», «Topografia Literária» e «Nas Entrelinhas da Escrita». Não fiquei de todo descontente com o resultado final, muito enriquecido pelas fotografias de época e pelo excelente trabalho de António Pinto.

incipit: «Tivesse ou não emigrado para o Brasil, ainda criança e sozinho, Ferreira de Castro seria sempre escritor.»

ficha: 
Autor: Ricardo António Alves
título: Viajar com... Ferreira de Castro
colecção: «Viajar com... Os Caminhos da Literatura»
edição: Delegação Regional da Cultura do Norte / Edições Caixotim
local: s.l.
data: s.d. [2004]
impressão: Rocha / Artes Gráficas, Vila Nova de Gaia
fotografias: António Pinto,
págs.: 50
tiragem: 2000

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Para um Dicionário de Ferreira de Castro: E de «Ecos da Semana»

Designação de uma coluna que Ferreira de Castro publicava no suplemento cultura de A Batalha, entre 1924 e 1926, textos que em boa hora foram reunidos em livro pelo Centro de Estudos Libertários, pela mão de Luís Garcia e Silva, em 2004. Castro a comentar o momento. Essencial.

(a desenvolver)

bibliografia: a minha recensão na Castriana #3

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domingo, fevereiro 28, 2016

50 discos: 41 - CAVALO DE PAU (1982) - #1 «Rima com Rima»


microleituras

Há quem considere Mário António (Fernandes de Oliveira, 1934-1989) o maior poeta angolano. Amor (1960) abriu a «Colecção de Autores Ultramarinos» da mítica CEI -- Casa dos Estudantes do Império. A simplicidade da edição é quase comovente. Dentro, meia dúzia de poemas que cantam o amor e a saudade dele, por vezes com acentos camonianos.







SONETO

Não invoquei o sonho para amar-te.
Não te mudei o nome nem a face
nem permiti que nada transformasse
minha imagem de ti em forma de arte.

Não te menti em nada. Para dar-te
a imagem do que eras (Um enlace
perfeito e harmonioso é o que dá-se
entre quem és e o esforço de cantar-te)

só deixei que os meus olhos te mostrassem
como o fundo de um poço ou como chama
onde secretas imagens perpassassem

as estrelas e as flores, o fogo e a lama
todo o mudo pudor que nunca há sem
os olhos destruídos de quem ama.

ficha
Autor: Mário António
título: Amor
edição: 2.ª
editor: UCCLA-União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa / Sol
local: Lisboa
ano: 2014
impressão: Fotocompográfica, Almada
capa: Henrique Abranches
págs.: 23
tiragem: 45000

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sexta-feira, fevereiro 26, 2016

The Hateful Eight



Mesmo para quem tenha aversão às orgias sanguinolentas que Tarantino serve na última parte dos filmes, vale imenso a pena ver este Hateful Eight no grande ecrã. O plano inicial, sob a música de Morricone, não me sairá da memória.

microleituras

Um clássico da literatura tradicional trabalhada por vários autores, de Ana de Castro Osório (a única que, até agora, lera) a António Sérgio, passando pela grande escritora brasileira para a infância Lúcia Pimentel Góes. Neste livrinho, é Filomena Marona Beja quem decide recontá-la, retirando-lhe o peso machista da época, que hoje seria inaceitável e acintoso: os misteriosos dez anõezinhos vieram ajudar  a dona de casa cujo desmazelo transtornara o marido, e esse auxílio pretado pelas dez criaturinhas acabaram por restabelecer a paz no lar. Donas donos  de casa, nos nossos dias, só por opção ou desemprego. Assim, nova moral da história: «o trabalho de cada um valoriza-se por si e pelo dos outros.»
Trata-se de uma edição artesanal, com imagens produzidas pela oficina de ilustração da Casa da Achada, que publicou a obra.

Incipit: «Eram novos e viviam juntos havia pouco tempo.»

ficha:
Autora: Filomena Marona Beja
título: Os Dez Anõezinhos da Tia Verde-Água
ilustrações: Marta Caldas, Felisbela Fonseca e elementos da oficina de ilustraçao da CA
edição: Casa da Achada - Centro Mário Dionísio
local: Lisboa
ano: 2014
capa: Eduarda Dionísio + oficina de paginação
impressão: Casa da Achada-Centro Mário Dionísio
págs.: 36  

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quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Para um Dicionário de Ferreira de Castro: D de «O Diabo»

«Semanário de Crítica Literária e Artística», resultado da convergência entre anarquistas e republicanos, publicando-se entre 1934 e 1940, encerrado compulsivamente pelo regime do Estado Novo. Ferreira de Castro é um dos fundadores, colabora logo no 'número espécime' (ou n.º zero), e chega a dirigir o jornal por dois breves meses, em 1935, uma solução de recurso que assegurou a saída do hebdomadário. Descontente com o jornal, José Régio augurava, nas páginas dapresença, uma melhoria com a direcção de Ferreira de Castro, que nele imprimiu nitidamente a sua marca, apesar do tempo curtíssimo como director. A seu convite, substitui-o na direcção o filólogo e professor Rodrigues Lapa, figura insigne da Oposição, com afinidades também à ideologia libertária. O jornal evoluiria para posições mais próximas do PCP, com a colaboração de jovens intelectuais comunistas, entre os quais Álvaro Cunhal. Castro e O Diabo mantiveram boas relações, tendo aquele concedido um extensa e importante entrevista, em 1940, estando à frente da publicação aquele que seria o último director, Manuel Campos Lima.

(a desenvolver)

bib: o meu artigo na Castriana #5, os livros de Clara Rocha, Daniel Pires e Luís Trindade.

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50 discos: 40 - DISCIPLINE (1981) - #1 «Elephant Talk»


Outra gravação que fugiu do YouTube... Fica uma excelente versão ao vivo.

microleituras

Ponto de situação do património romano no concelho, texto que serviu de base a uma exposição em 1986. O município é sobretudo rico em villae -- explorações agrícolas em torno de residências senhoriais -- "equiparável ao monte  alentejano" --, sendo as mais importantes Casais Velhos (Areia-Guincho), Alto do Cidreira (Carrascal de Alvide) e Freiria (S. Domingos de Rana). Delas se extraíram, desde as prospecções pioneiras de Francisco Paula e Oliveira, no último quartel do século XIX, objectos de uso quotidiano e aras votivas do maior interesse.
Naturalmente que nos trinta anos que se seguiram, vários e importantes foram os achados e o estudos, mas isso já não faz parte deste opúsculo.
incipit: «Este texto foi o catálogo da exposição «Cascais no Tempo dos Romanos» que, em Agosto de 1986, esteve patente ao público no Palácio da Cidadela, em Cascais, organizada sob o patrocínio da Câmara Municipal e do Instituto Português do Património Cultural, montada pela Divisão de Artes Criativas e Montagem da Secretaria de Estado da Cultura.» («Nota prévia»)

ficha
autores: Guilherme Cardoso e José d'Encarnação
título: Cascais no Tempo dos Romanos
editora: Câmara Municipal de Cascais
ano: 1990
impressão: Ramos, Afonso & Moita, Lisboa
págs.: 16
tiragem: 500 ex.
obs.: separata da Revista de Arqueologia #1, Lisboa Assembleia Distrital, 1990. 

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Para um Dicionário de Ferreira de Castro: C de «Canções da Córsega»

Conferência proferida na Universidade Popular Portuguesa, em 16 de Dezembro de 1934, a convite de Ema Santos Fonseca da Câmara Reis, e integrada nos ciclos de Divulgação Musical, que organizava. 
O texto elabora sobre aspectos do canto popular corso (Ferreira de Castro esteve na Córsega nesse ano) e a idiossincrasia daquele peculiar povo insular -- temas que abordaria em capítulo próprio de Pequenos Mundos e Velhas Civilizações.

(a desenvolver)

Bibliigrafia: 100 Cartas a Ferreira de Castro; Ema Santos Fonseca da Câmara Reys,Divulgação Musical III, Lisboa, 1936.


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quarta-feira, fevereiro 24, 2016

uma carta do Padre António Vieira

Carta publicada por Andrée Rocha, A Epistolografia em Portugal (2.ª ed., 1951), recolhida na edição Sá da Costa da Cartas (1951), por António Sérgio e Hernâni Cidade.
Dirigida a Duarte Ribeiro de Macedo, então enviado em França, excelente sobre o ambiente persecutório e o o poder da Inquisição, cuja chaga purulenta ainda hoje se escarva e se escarra na tristíssima sociedade portuguesa. 
O retrato do fascinante Frei António das Chagas é esplêndido, bem como a arguta noção de Vieira dos perigos do prègador iluminado e alucinado -- qual pastor tele-evangelista --, o receio pelo que, às mãos da turba poderiam sofrer os cristãos-novos; evocando o massacre dos judeus ocorrido em Lisboa no reinado de D. Manuel I, cujo memorial há uma década foi erigido nesse Largo de São Domingos de nefanda memória, e que hoje, ironia da História, é local de cruzamento étnico das mais desvairadas religiões e dos que não têm religião nenhuma.

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Para um Dicionário de Ferreira de Castro: B de Barros, João de

Poeta, pedagogo, político -- foi ministro dos Negócios Estrangeiros na I República -- João de Barros (Figueira da Foz, 1881 - Lisboa, 1960), é um dos últimos grandes vates pré-modernistas portugueses, autor de uma poética vitalista e inconformada, muito ao arrepio da tradição nacional, fatalista e lamentosa. Como escritor, importa referir também a importante obra cronística e ainda -- muito ligado à sua faceta de pedagogo -- a adaptação de clássicos, «contados às crianças e ao povo»,  como Os Lusíadas, entre outros. Era pai de Henrique de Barros, agrónomo e professor universitário que presidiu à Assembleia Constituinte (1975-1976) e sogro de Marcelo Caetano.
A estreita amizade com Ferreira de Castro -- foi padrinho da filha deste, Elsa -- remonta à década de 1920. Barros foi dos poucos autores em relação ao qual Castro transigiu, escrevendo um prefácio para a edição reunida de Anteu  e Sísifo (1959). Há pelo menos três poemas que lhe são dedicados.

(a desenvolver)

Bibliografia: além da activa de ambos, as 100 Cartas a Ferreira de Castro, o apêndice na Correspondência entre Ferreira de Castro e Roberto Nobre sobre a propositura ao prémio Nobel, em 1951.

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terça-feira, fevereiro 23, 2016

50 discos: 39 - PERMANENT WAVES (1980) - #1 «The Spirit Of Radio»


microleituras

Um ensaio tão sucinto quanto brilhante, pela fractura que instaurou entre dois modos de considerar a literatura caboverdiana. 
Onésimo Silveira -- que viria a doutorar-se em Ciência Política em Uppsala, membro do PAIGC, tendo enveredado pela carreira diplomática (foi embaixador de Cabo Verde em Portugal, entre outros postos) -- fez publicar pela Casa dos Estudantes do Império (CEI), em 1963, este ensaio que significa um separar de águas entre a geração do grupo da Claridade -- provavelmente a mais brilhante de Cabo Verde no século passado -- e os novos escritores que não se reviam no tipo de literatura praticado por aquela, que classificaram como "evasionista".
Silveira, que nessa altura era um jovem de 28 anos, ousava criticar acerbamente as obras dos Claridosos, de cujas fileira faziam parte nomes como Baltazar Lopes, Manuel Lopes, Teixeira de Sousa e Jorge Barbosa, a quem deu o epíteto de «pontífice do evasionismo». O autor arrasa-os de uma perspectiva ideológica e política, acusando-os, por outras palavras (afinal tratava-se de uma edição da CEI!...), de, por elitismo, superficialidade, inautenticidade e, até, complexo de inferioridade, se afastarem da feição africana da cultura de Cabo Verde, em detrimento de uma orientação metropolitana, portuguesa, europeia. O que naquele tempo (estamos no início da luta armada por parte do PAIGC contra o colonialismo português), ia ao arrepio da urgência do tempo, que a arte, segundo o autor, deveria traduzir. E dava exemplos da nova geração, transcrevendo o poema «Anti-Evasão», de Ovídio Martins.
Não sei até que ponto Onésimo Silveira, do alto dos seus oitenta anos, se revê em muitas asserções deste ensaio muito bem feito, muito datado, também, e, por isso mesmo, de grande valor histórico para Cabo Verde, e igualmente para Portugal.

ficha:
Autor: Onésimo Silveira
título: Consciencialização na Literatura Caboverdiana
edição: 2.ª
editora: UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa)
local: Lisboa
ano: 2015
impressão: Printer Portuguesa, Mem Martins,
págs.: 31
tiragem: 45000

(tamb+em aqui)

uma carta de Oliveira Martins

Oliveira Martins (1845-1890), director de O Repórter, agradece, com os maiores encómios, a Luciano Cordeiro (1844-1900), o envio de Sóror Mariana, a Freira Portuguesa (1888). Esta é a primeira de quatro cartas de homens públicos enviadas a Cordeiro, que sustentava tratar-se as Lettres Portugaises do punho de Mariana Alcoforado, o que continua a ser controverso.


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microleituras

Um manifesto escrito no final do século passado, fruto de vários anos de meditação e maturação pelo seu autor. Cascais, como se sabe é uma vila (teve carta de D.Pedro I em 1364, autonomizando-se de Sintra). Mas é também um contínuo urbano, da Quinta da Marinha a Carcavelos. Quando o texto foi publicado, a situação urbanístca e suburbana (a chamada "Costa da Sombra"...) era ainda muito má, mas começava então a civilizar-se, com equipamentos desportivos e culturais e infraestruturas básicas. 
O que a «Cidade Global» de Cascais tem de inovador, ainda hoje, é que não se trata de uma mera elevação administrativa duma povoação de vila a cidade; mas, pelo contrário, a sua compreensão enquanto um  todo urbano, com racionalidade de gestão, delimitada pelo Parque Natural de Sintra-Cascais -- cidade que contemplaria no seu seio diversas vilas, a começar pela própria vila de Cascais, mas também a da Parede e outras que fossem ganhando dimensão. A cidadania está na cidade.

incipit: «Todas as cidades tiveram um princípio, uma evolução e terão um dia certamente um fim.»

ficha:
aitor: José Vieira Santos
título: Cascais -- A Cidade Global
subtítulo: 10 Pontos para Reflexão
editora: Fundação D. Luís I
local: Cascais
ano: 1999
capa: foto de Fotografia César, Cascais
impressão: Grafilinha
págs.: 29
tiragem: 2000

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segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Para um Dicionário de Ferreira de Castro: A de «Alma Lusitana»

«Phase da Guerra Luso-Alemã em Naulila, Africa -- (1914-15)». Segundo livro publicado por Ferreira de Castro, ainda em Belém do Pará, em 1916. É também o seu primeiro texto dramático, género que intermitentemente cultivou até meados da década de 1930. 38 págs., sem menção de tipografia.
 Bibliografia a ter em conta: Alberto Moreira, Bernard Emery, Clara Campanilho Barradas. (a desenvolver)

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50 discos: PETER GABRIEL (1980) - #1 «Intruder»


uma carta de Ramalho Ortigão

Publicado por Beatriz Berrini, em Cartas a Emília (Lisboa, 1993). Não suscita muitos comentários, só o deleite da leitura da escrita cristalina da ramalhal figura (Eça de Queirós) e a mania que ele tinha da saúde, da higiene, do desporto.
(ler aqui)

microleituras

Sidónio Muralha é um dos nomes inaugurais da poesia neo-realista(Beco, 1941), autor do «Novo Cancioneiro» (Passagem de Nível, 1942),celebrado autor de muitos e bons livros para crianças, entre os quais Bichos, Bichinhos e Bicharocos (1950), Todas as Crianças da Terra (1978) e O Rouxinol e a Sua Namorada, 1983 -- maravilhosamente ilustrados por Júlio Pomar, o primeiro, e Fernando Lemos. Na década de 1950 sai do país e vai, na companhia de Alexandre Cabral, o futuro grande camilianista, para o então Congo Belga, emigrando mais tarde para o Brasil, onde virá a falecer, em Curitiba.
Os poemas mais interessantes desta colectânea são os que abordam a mágoa da longa ausência deste poeta lisboeta nascido na Madragoa e que soube ser um autor para todas as crianças da terra, tendo no Brasil um país que enquanto tal também o adoptou.

Deixo um dos meus preferidos, o primeiro dos «Dois Sonetos do Difícil Retorno»

Se fores a Portugal um dia, se
pisares aquele chão, diz-lhe que aguarde
o difícil retorno deste que
nunca pensou voltar assim tão tarde.

Mas houve temporais e lutas e
se a batalha foi ganha sem alarde,
nunca foi sem alarde a raiva de
um inimigo oculto, hostil, cobarde.

Atravessei os mares e os continentes,
conheci outras línguas, outras gentes,
mas a minha poesia é lá que vive.

É lá que sou poeta e na verdade
a minha volta é só formalidade.

-- Voltar não voltarei. Sempre lá estive.

ficha:
título: 26 Sonetos
autor: Sidónio Muralha
colecção: «Horizonte Poesia» #7
editora: Livros Horizonte
local: Lisboa
ano:1979
texto contracapa: José Manuel Mendes
págs.: 30
impressão: Tip. Minerva do Comércio, Lisboa

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Para um Dicionário de Ferreira de Castro

Já de há muito que acalento a possibilidade de elaborar um Dicionário de Ferreira de Castro. Obviamente que esse seria um trabalho de uma vida, à maneira de Alexandre Cabral (outro castriano, por sinal), e eu já me daria por satisfeito se lograsse uma espécie de abc sobre o escritor. Por isso, defendo-me e tento fintar a sensação de esmagamento diante de tarefa tão extenuante, lançando cá para fora verbetes com texto mínimo, ficando os microensaios para as calendas…. Além do mais, um verdadeiro dicionário de Ferreira de Castro teria de ser um trabalho colectivo e com alguma especialização, havendo, felizmente, para as principais áreas temáticas, gente que poderá falar com conhecimento e acerto. Talvez mais à frente, isso possa ser concretizado. Para já, fiquem-se com estas pedras ao poço.
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sábado, fevereiro 20, 2016

BACK OF MY MIND



Umberto Eco


Que dizer, quando morre um tipo destes? Um dos maîtres à penser do mundo ocidental, da Europa culta e cosmopolita, que dissertava sobre a patrística medieval ou uma prancha de Milton Caniff. Aliás, era um bedéfilo requintado: Milton Caniff? É muito bom... E Schulz e o seu Charlie Brown, idem.. Já era um grande nome da Semiótica quando entrou, com estrondo, no romance -- O Nome da Rosa, tenho-o autografado por si, numa sessão na Bertrand do Chiado --, livro com homenagens a Borges e a Connan Doyle, e a Guilherme d'Ockham. Na última fase do Diário de Lisboa, dirigido por Mário Mesquita e Diana Andringa, aí por 1990, acompanhava com gula as crónicas semanais de que o jornal tinha o exclusivo para o nosso país; tenho até alguns recortes.
Não me apetece nada ser apocalíptico, e escrever que Eco morre num tempo crepuscular. Rle não merece.
 O último livro que lhe li foi este

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

E que tal o Ministério Público descobrir quem foi o pulha e a Justiça ser implacável?

Como sabe quem me conhece, ou quem por aqui me acompanhe, estou-me nas tintas para o 'caso' Bárbara Guimarães - Manuel Maria Carrilho. Este, como sempre digo, foi o melhor ministro da Cultura do regime democrático -- em tempo de vacas gordas, mas foi-o; ela, não é apenas bela, mas uma profissional competente, embora não lhe consuma o canal, bolas!. Quanto às suas qualidades e entorses pessoais, não sei, não quero saber, e até tenho raiva a quem sabe. 
Abomino essas folhas de papel higénico impróprias para consumo que são as revistas de mexericos, e considero quem as consome uns pobres de espírito. Muitas vezes sou obrigado a ver o esterco em estendal, enquanto estou na bicha da bomba de gasolina ou em situação similar, poluição visual da mais grosseira e inadmissível. 
Fui, portanto, obrigado a saber que uma dessas revistas de má fama -- em relação às quais a saudosa Gina era um exemplo de polidez --,  que as declarações do filho do casal ao juiz (uma selvajaria com que nenhum pai deveria pactuar, por mais preparado que um magistrado esteja para lidar com uma criança), essas declarações foram reproduzidas pelo lixo das revistas de coscuvilhice. Isso é gravíssimo, para mim pior do que as fugas de informação sobre o processo de qualquer agente político ou financeiro envolvido nalgum caso. É infame. E como diz o arguto Ferreira Fernandes (lido  aqui), o problema agora passa a ser nosso.
Toca a trabalhar, Ministério Público, para descobrir quem foi o pulha -- e se não houver enquadramento legal para mandá-lo para a cadeia, há, certamente, para pôr o porcalhão no olho da rua.

50 discos: 36 MAKING MOVIES (1980) - #1 - «Tunnel Of Love»


terça-feira, fevereiro 16, 2016

latidos aflitos de caniche

«Não sei se lhe parece idiota o que vou dizer mas aos domingos de manhã, quando nós lá íamos com o meu pai, os bichos eram mais bichos, a solidão de esparguete da girafa assemelhava-se à de um Gulliver triste, e das lápides do cemitério dos cães subiam de tempos a tempos latidos aflitos de caniche.»

António Lobo Antunes, Os Cus de Judas (1979) 

50 discos: 35 - REGATTA DE BLANC (1979) - #1 «Message In A Bottle»


o padre e a beata

Lamentável, no Prós & Contras desta noite, sobre a eutanásia, a desonestidade intelectual manifestada pelo padre de serviço (o homem tinha orgasmos no seu propalado "amor à vida") e uma conhecida beatona de serviço, uma farisaica com o topete de qualificar como cúmplices todos quantos pudessem intervir no suicídio assistido de quem, por sofrimento insuportável, não quer continuar a viver. E intelectualmente desonestos porque nem o padre (este só depois de instado a pronunciar-se enquanto tal) nem a beata tiveram a inteireza de assumir que as suas posições se manifestavam fundamentalmente como crentes religiosos para quem a eutanásia é proibida, por pecado mortal. Refugiavam-se na bonita palavra ética, coisa que ao longo do programa mostraram não lhes assistir. A vergonha do costume. Mas por que diabo teremos nós, crentes ou ateus -- principalmente ateus, para quem a a ideia de Deus é abstrusa, sem sentido, paleolítica (inferior) -- por que diabo temos de continuar a estar reféns destes cromos da hóstia?...  

domingo, fevereiro 14, 2016

50 discos: 34 - THE WALL (1979) - #1 «In The Flesh?»


O triste caso Parmjit Singh

Esta reportagem da RTP mostra o que pode a estupidez e o analfabetismo de burocratas, agentes do SEF ou juízes, com responsabilidade da Interpol.
Parjit Singh é um sikh, comunidade maioritária no estado do Pundjab, que pugna pela secessão da Índia. Essa contestação faz-se por vários métodos, pacíficos ou violentos. Refugiado legalmente em Inglaterra há vários, onde trabalha e constituiu família, depois de haver sido preso e torturado no país de que é cidadão, nessa condição viajava normalmente pelos países da UE com a família, sendo a terceira vez que estava em Portugal.
Há cerca de dois meses, de férias no Algarve, foi detido pelo SEF. Se fosse um detenção para averiguações, uma vez que a Interpol tinha o seu nome como indivíduo procurado -- que entretanto, depois da barraca das autoridades portuguesas, foi eliminado da lista -, eu acharia normal. Mas em face dum passaporte britânico que atestava o seu estatuto de refugiado político, o que faz o SEF? Mantém-no detido. Mais: vai a tribunal, e a prisão é confirmada, inclusive pela relação de Évora.
Salvou a honra do país a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que rejeitou o pedido de extradição para a União Indiana, onde poderia ser condenado à morte.
No meio disto uma família aterrorizada, a mulher e os filhos, todos ainda crianças, outras vítimas do analfabetismo do SEF e dos juízes que lidaram com este processo. Chamar-lhes analfabetos, é pouco, pelo sofrimento que infligiram a esta família. É vergonhoso, indigno e revoltante.

sábado, fevereiro 13, 2016

das liberdades individuais

«Todo progresso foi essencialmente marcado pela extensão das liberdade do indivíduo em detrimento da autoridade exterior tanto no que concerne à sua existência física, quanto política ou econômica.»

Emma Goldman, O Indivíduo, a Sociedade e o Estado (1940)

só uma música

Gravado ao vivo em Itália, com músicos locais, em 1959, Chet Baker canta em algumas faixas, o que fazia como tocava trompete, smoothly, Mas a minha escolha vai para o standard de Gordon Jenkins, «Goodbye», uma peça melancólica a condizer com a fachada do Chet, aqui com um portentoso arranjo orquestral.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Aeroporto Humberto Delgado

Dizem que Humberto Delgado não era flor que se cheirasse. Autoritário, quezilento, quiçá megalómano. Parece, também, que era duma coragem a toda a prova.
Vem isto a propósito da justíssima homenagem, que só peca por tardia, de atribuir-se o seu nome ao Aeroporto "da Portela" (que raio, ainda ninguém pensara nisso? Eu confesso que não, pois evito andar de avião...)
Não faltará quem venha contestar este baptismo, alegando todos esses defeitos e mais alguns. A verdade é que Delgado foi um homem incomum; mas a questão nem é essa: "Humberto Delgado" passou a ser mais do que o homem que encarnou esse nome; tornou-se mito e símbolo do indivíduo que se levanta contra o poder ilegítimo e opressor, levando a nação com ele.
Está provado, pela amostragem que escapou à destruição dos boletins de voto, que Delgado ganhou essas eleições, e que foi portanto um Presidente da República que um governo ilegítimo e usurpador impediu que ascendesse à magistratura que o povo lhe confiara. E de tal maneira Salazar e o regime interiorizaram a derrota que trataram de fazer um revisão constitucional em que o Presidente da República deixou de ser eleito por sufrágio universal para passar a sê-lo por colégio eleitoral. Admissão mais límpida do embuste, não há.
Por justiça poética da História, o usurpador Américo Thomaz, o tal que fora "eleito" em 1958, virá a ser derrubado dezasseis anos mais tarde, a 25 de Abril de 1974.
Delgado foi assassinado cobardemente pelos hominídeos da Pide. Salazar, que pelo menos quis capturá-lo nessa cilada, decidiu pronunciar-se publicamente, encobrindo os sicários que o sustentavam no poder, pudera.
Portanto, Aeroporto Humberto Delgado!

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

50 discos: 33 - IN THROUGH THE OUTDOOR (1979) - #1 «In The Evening»


Quando for a S. Bento, quero levar um balde de pipocas, para também me rir à parva com as galinholas e os galifões da PàF

Telejornais de ontem. Quando um tipo pensa que boa parte daqueles indivíduos que representam o PSD e o CDS já bateram no fundo da falta de vergonha e da estupidez, afinal não, afinal conseguem refocilar ainda com maior desenvoltura, à frente de toda a gente.
O cenário, a Assembleia da República; a circunstância, um debate na Comissão do Orçamento, com Mário Centeno. O ministro fala e quase não acredito no que oiço e vejo: gargalhadas de galináceas e sorrisos alvares de galifões. Quase tive pena de Duarte Pacheco, que me parece ser homem de compostura, e até de Cecília Meireles (espero não estar enganado, e ter sido também ela galinhola -- tudo é de esperar).
Do outro lado, tipos preparadíssimos -- e suponho que com pouca paciência para lidar com putos --, Trigo Pereira, João Galamba, Mariana Mortágua, até Paulo Sá, que não é economista, e o inexperiente André Silva, a dar um exemplo de civilidade àqueles patetinhas.
Eu olhava para as tristes figuras, sempre à espera que a qualquer momento sacassem do balde das pipocas. É claro que Centeno, sem perder a urbanidade, fez gato-sapato daquele jardim zoológico da direita; mas o espectáculo foi degradante. Ao nível, de resto, do que foi, com poucas excepções, a anterior legislatura.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

The Revenant


Entre muitas outras coisa, um poderoso exercício de Iñarritu com DiCaprio em torno dos recursos inesgotáveis do indivíduo. Um tom amargo pela potência que é dada à vontade de desforço e vingança, e em que o altruísmo é sempre mal recompensado.



terça-feira, fevereiro 09, 2016

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

domingo, fevereiro 07, 2016

estampa CCIV - Correggio


Nossa Senhora do Cesto (c. 1524)
National Gallery, Londres

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

terça-feira, fevereiro 02, 2016

só uma música

Só uma música, não por tê-la escolhido (apesar de muito boa), mas porque quem gere o património da Albion Band, grupo jé desfeito pela, pelo menos, terceira vez, retira as músicas do YouTube. Captured (1994), porque se trata de registos não definitivos. Como entretanto tinham acabado, alguém, provavelmente o fundador, Ashley Hutchings, resolveu lançar o material assim mesmo, e ainda bem.

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

O Marco António Costa pede transparência

Depois de chamar a troika com o chumbo do PEC 4 -- que era apoiado, recorde-se, pela Comissão Europeia e pela Alemanha --; depois de todas as tropelias no governo, vendendo o país aos bocados, mesmo quando não havia imposição externa (hão-de explicar o benefício para Portugal que trouxe a venda dos CTT); depois de endrominanço atrás de endrominanço, de enganar o povo português desde a anterior campanha eleitoral até à última falta de vergonha do reembolso de parte da chamada contribuição extraordinária; depois do Banif; depois abusar dos portugueses dizendo em Bruxelas que os cortes eram permanentes, mas cá eram apresentados como temporários, o PSD e o Marco António continuam a gozar connosco, e ainda mais com os pobres de espírito que neles votaram, pedindo "transparência" (transparência...) ao actual governo. Qualquer dia, vão apresentar-se como social-democratas. 

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