quinta-feira, outubro 30, 2014

acho um piadão ao Putin

Ao mesmo tempo que faz um acordo com a Ucrânia sobre o abastecimento de gás (vamos lá a ver por quanto tempo), manda uns bombardeiros estratégicos passear por estes lados para lembrar à Nato que a questão é para ser resolvida nos termos que ele quiser ou aceitar. Coisa que o Obama sabe, mas que a boa parte dos homúnculos políticos da Europa, que se armaram em salientes na questão ucraniana, parece que se esqueceram.

quarta-feira, outubro 29, 2014

terça-feira, outubro 28, 2014

a História pateta e adocicada que nos foi ensinada

A propósito deste correctíssimo post, escrevi o seguinte comentário:

Continuamos a ensinar ums história distorcida, ocultando as sombras.
Por essa razão, ficámos muito admirados quando os indianos não acharam graça nenhuma a termos querido comemorar com eles a descoberta do caminho marítimo para a Índia, pois, para eles, o Gama significa, pilhagem e morte.
O mesmo se passou com os 500 anos da viagem de Cabral e a questão dos indígenas.
E foi confrangedor assistir ao pasmo e ao choque dos nossos responsáveis políticos de então, também eles embaladados pela mesma lenga-lenga.
Não é apenas defeito nosso, o que não justifica essa ocultação, que nos deixa não só ignorantes como "desarmados" quando nos são atirados à cara os actos hediondos que também praticámos.

dizem que esta merda é revista de referência no Brasil

Isto é o tipo de jornalismo de sarjeta que trata os leitores como estúpidos.
(É de notar que este papel pouco higiénico saiu nas vésperas da eleição de Domingo.)

segunda-feira, outubro 27, 2014

as narcóticas exalações de um bom cigarro de Havana

«Não me lembra que Lord Byron celebrasse nunca o prazer de fumar a bordo. É notável esquecimento no poeta mais embarcadiço, mais marujo que ainda houve, e que até cantou o enjoo, a mais prosaica e nauseante das misérias da vida! Pois num dia destes, sentir na face e nos cabelos a brisa refrigerante que passou por cima da água, enquanto se aspiram molemente as narcóticas exalações de um bom cigarro de Havana, é uma das poucas coisas sinceramente boas que há neste mundo.»

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra (1846)

BASTA UM DIA



muda mais

Vivo em Cascais e trabalho em Sintra, dois locais turísticos por excelência. Até há meia dúzia de anos, de brasileiros, só imigrantes, em geral pobres em trabalhos indiferenciados, com excepção dos dentistas, ou uns quantos casados com  portugueses, em regra integrando os segmentos sociais mais abastados. Turistas, famílias, nem vê-los, ao contrário do que hoje sucede.
A situação mudou radicalmente nos últimos anos, também com forte contributo de Fernando Henrique Cardoso, o primeiro presidente recomendável que aquele país teve em mais de três décadas. O PT -- que sem dúvida terá todas as características que têm os partidos de poder, nomeadamente a atracção dos oportunistas, dos vigaristas, certamente necessitando de várias varridelas --, com todas as insuficiências, tornou o Brasil mais decente. Pessoalmente, não politicamente, até sinto mais simpatia pelo Aécio que pela Dilma; mas é graças ao PT e ao grande Lula que o Brasil começa a sair do Terceiro Mundo.

um blogger passeia-se pela floresta dos posts

1. A comunidade poética das culturas
2. David Redfern, Photographs
3. Disney Comix 100: os destaques do Tio Nuno
4. E o resto era pedra
5. Misticismo XIX
6. Pensar o Homem com Ray e Allen
7. Soundtrack of my life: Robert Wyatt

sábado, outubro 25, 2014

a sombra dum sorriso

«Não há dúvida: a Primavera chegou. os pessegueiros estão floridos, as glicínias se debruçam sobre o muro, o menino doente já mostra no rosto magro a sombra dum sorriso.»

Erico Veríssimo, Clarissa (1933)

sexta-feira, outubro 24, 2014

estampa CLXXXIV - Alfredo Ambrosi


Retrato de Benito Mussolini Frente a uma Vista Sobre Roma (1930)
colecção particular

quinta-feira, outubro 23, 2014

o plágio

Mil vezes preferiria escrever asneiras, a brilhar à custa de terceiros, ocultando a origem desse pretenso brilho. É mais do que uma questão de honestidade; é mesmo vaidade, amor-próprio, o que se quiser. Eu gosto de me olhar ao espelho a qualquer hora do dia, porra. 
Mal comparando é como a canção do bandido: um tipo que conquista uma mulher, fazendo-se passar por coitado, não passa disso mesmo: um coitado, um merdas. Assim com o plágio... 

ANOTHER GIRL, ANOTHER PLANET



AFTER MIDNIGHT



quarta-feira, outubro 22, 2014

não havia necessidade

Eu até percebo que, por razões de civilidade e elegância, um deputado português, que não correligionário, aplaudisse o último discurso de Durão Barroso no Parlamento Europeu. Fazê-lo de pé, como sucedeu com Assis, é que, atendendo à personagem, me parece excessivo.

a responsabilidade do dom

Rui Chafes, Entre o Céu e a Terra (2013). O livro reúne duas intervenções do escultor, reflectindo sobre a Arte em geral, e a sua em particular. E executa-o com grande profundidade e uma solidez de escrita que encarreira ambos os textos para a categoria de obras literárias, que irrefutavelmente (também) são.
Em «A história da minha vida», Chafes concebe um escultor nascido na Francónia medieval do século XIII e que, sem limitações de tempo e de espaço, deambula entre o Norte e o Sul da Europa ao longo de mais de meio milénio, trabalhando e aprendendo com os mestres de cada época -- dos artistas das catedrais  francesas aos pré-românticos alemães. Trata-se de uma autobiografia estética, em que as inquietações e os desígnios de Chafes enquanto artista são equacionados. Como exercício estético, associo-o a Orlando, romance de Virginia Woolf e a A Arca Russa, filme de Alexander Sokurov.
O segundo texto, «O perfume das buganvíleas» é constituído por 46 fragmentos, cada um susceptível de comentário desenvolvido. Direi apenas que encontro uma marca estóica no encarar, no apreender e no justificar da morte ("A beleza é impossível sem as marcas da morte", p. 40); a consciência do dom e a responsabilidade ética que implica, acompanhada de nostalgia por uma pretensa época dourada, com o inevitável questionamento da desumanização da sociedade mercantilizada que nos coube viver, e em que o consumo se estende à arte. 
Prezo ainda a consequência que é retirada: a do artista (só não escrevo verdadeiro artista porque me lembra o Serafim Saudade) como elemento de resistência e sanidade em face da poluição mercantil que nos condiciona.  

segunda-feira, outubro 20, 2014

sem que estivesse à espera

«Por um momento, o voo da ave de rapina é um traço negro na paisagem morena da planície. E só o homem, pela janela, vê o assalto. Tem uma pequena agitação, dá dois passos em direcção à rua, eleva instintivamente os braços como a querer seguir o rumo do pássaro no infinito e depois recolhe-se de novo ao fundo da casa.»

Antunes da Silva, Suão (1960)

ALL IS LONELINESS



sábado, outubro 18, 2014

THE BIG LEBOWSKI / O GRANDE LEBOWSKI, Joel & Ethan Coen (1998)


Colecção de cromos; um divertimento. Jeff Bridges com interpretação extraterrestre.



sexta-feira, outubro 17, 2014

a quadrilha da TDT -- "Então, ninguém vai preso?!..."

A minha ingenuidade, a minha boa-fé, a minha burrice continua a ser posta à prova com as sucessivas revelações da gatunagem que toma conta deste país. 
A reportagem do «Sexta às 9» de hoje, sobre a vigarice obscena da TDT perpetrada pela PT/MEO, com a incompetência e/ou a cumplicidade da Anacom, mostra que, ao contrário do que se passa na cosmopolita Lisboa, centro e periferia dos esquemas manhosos da Banca e das trapalhadas do Banco de Portugal e da CMVM, na província -- desertificada, pobre, idosa e com pouca instrução --, os vigaristas nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar. 
Os aparelhos da TDT não funcionam, as pessoas são levadas a contratar serviços da tv por cabo, quem não o fez ou não tem televisão ou recebe as emissões com muitas deficiências. O programa mostra também o quanto as televisões portuguesas, em especial a RTP, pagam mais do que as suas congéneres estrangeiras. Mais ainda, o cúmulo da trafulhice neste caso de polícia: em Portugal, os utentes da TDT só têm acesso a quatro canais RTP 1 e 2, SIC e TVI; basta ir a Espanha e ver que a oferta é o dobro ou o triplo. Porque será?
Portugal continua a ser gerido, a vários níveis, por indivíduos pouco recomendáveis. O abuso, o roubo, a extorsão são tão grosseiros, a falta de respeito pelas pessoas é de tal forma dolosa que a tutela (o Governo, este e o que se lhe seguir) ficará gravemente comprometida se não investigar o esquema a pente fino, abrir inquéritos com vista a processos disciplinares e participação criminal dos quadros dirigentes da Anacom e da PT que duma forma inqualificavelmente reles ludibriaram uma parte da população. Não é só no caso dos submarinos, das ppp's, do BPN, dos BES que temos de perguntar: "Então ninguém vai preso?!..."
Bem podem falar do ditador da Guiné-Equatorial e do filho com tiques de proxeneta; ou da corrupção em Angola e dos generais mafiosos. É em episódios como este que se vê como Portugal está a saque, e que na classe dos gestores, públicos e privados, por muito engravatada que se apresente, prevalece o tipo sebento e mal acabado do burlão.
Nunca como hoje as palavras incisivas do fotógrafo espanhol García-Alix me pareceram tão bem ajustadas à elite (de pacotilha) que dirige país. 
E não se pode exterminá-los?

quinta-feira, outubro 16, 2014

em cristianíssimo ripanço

«Tarde de infinita benignidade -- era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -- ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão.»

Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1922)

quarta-feira, outubro 15, 2014

auto-de-fé íntimo

«Ficou só um castelo de cinza crepitando mansamente, num silêncio de redoma. Como era doloroso ver arder uma carta: era como se ardesse também alguma coisa, ainda alguma coisa, de quem a mandara!»

Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol (1959)

terça-feira, outubro 14, 2014

adoro dicionários

ABCdário do Antigo Egipto, Guillemette Andreu, Patricia Rigault, Claude Traunecker.  Adoro dicionários temáticos, sínteses estimulantes entre o ponto de situação do tema proposto e a alieatoriedade quase insana com que somos comandados pelos asteriscos, que nos remetem para verbete conexo, dentro duma ordem alfabética...
Aqui, história, política, religião, literatura, artes decorativas e as outras, arqueologia -- a civilização egípcia concentrada em oitenta entradas, precedidos de um breve enquadramento histórico e sucedidos por uma cronologia que abrange do Período Pré-Dinástico (5000 - 3000 a.C.) até ao ocaso da época ptolomaica, em 30 da nossa era, com a conquista romana. Acresce um óptimo acervo iconográfico em bom papel -- que mais se pode pedir? 

segunda-feira, outubro 13, 2014

domingo, outubro 12, 2014

impura de todos / gostarem de mim
Natália Correia

merecer a terra

«A terra daquele cemitério era sua, como a aldeia e tudo o que lhe ficava à volta. E ali era ele quem mandava. Já marcara o lugar para o genro -- seria metido num dos jazigos da família, no dos aparentados, ao pé das mulheres, das crianças e dos homens; de certos homens que disso pouco mais tinham do que o corpo. De cova aberta no chão, bem funda, só os que davam à terra o que ela merecia.»

Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)

sábado, outubro 11, 2014

das vítimas da História

O Retorno, Dulce Maria Cardoso (2012). Um bom romance sobre o drama dos chamados retornados -- episódio central do pós-revolução de Abril, em que sobressai o choque cultural e consequente rejeição da "Metrópole", que responde em conformidade. Rejeição sentida principalmente por parte dos jovens, que nunca a haviam conhecido ou dela tinham uma ideia distorcida, porque mitificada, nomeadamente nos programas escolares. Decepção que acarreta um sentimento de impotência e revolta. Todos os que não fomos retornados conhecemos e tivemos parentes que o foram. Eu tenho a idade de Dulce Maria Cardoso, e lembro-me.
Esta é, pois, uma história sobre as vítimas da História, as que foram apanhadas no turbilhão em que, por um lado, se intersectaram as contingências da política interna (Guerra Colonial, Revolução e estado de pré-guerra civil, Descolonização) e, por outro, as dinâmicas geopolíticas decorrentes da Guerra Fria. Demasiado para simples pessoas que a pobreza da "Metrópole" ou o espírito de iniciativa fizeram com que fossem atraídas por essas terras de oportunidade. Daí que o mainstream político retornado espelhe uma enorme hostilidade ao 25 de Abril e àqueles que o protagonizaram, militares e políticos. Os doestos com que mimoseavam Soares e Rosa Coutinho, por exemplo, são expressão patética dessa impotência.
Dulce Maria Cardoso trata o tema, não apenas com mestria literária (a chegada ao Aeroporto da Portela é um dos grandes momentos do livro), mas igualmente com sabedoria autoral, pois O Retorno é um livro que se esforça por não tomar posição. Embora se perceba a inelutabilidade histórica -- e, desse ponto de vista, não há um mínimo de justificação do colonialismo, bem pelo contrário --, o romance é feliz ao dar-nos um perfil perfeitamente normal daqueles que vieram de África: na maioria, gente comum apanhada pelo vórtice da História.
A forma como a autora o veicula é inteligentemente dada através do discurso do protagonista, Rui, um adolescente a quem, nós leitores, permitimos e compreendemos todos os desabafos, todas as invectivas, todas as perplexidades. 

quinta-feira, outubro 09, 2014

a falar macio

«Foi quando Aparício entrou no arraial. Viu o filho à frente dos cangaceiros, de chapéu de couro, de rifle às costas, de punhal atravessado. Os cabras encheram as latadas de risadas, de pabulagens, de histórias de briga. Aparício chegou-se à latada da mãe e tomou-lhe a bênção, manso como um cordeiro. E sentou-se a seu lado, de chapéu na mão, falando macio:»

José Lins do Rego, Cangaceiros (1953)

quarta-feira, outubro 08, 2014

GONE GIRL / EM PARTE INCERTA, de David Fincher (2014)


Chegados ao fim, há uma sensação de algum ludibrio, mas é bem esgalhado, não se fica a chorar tempo e dinheiro. Ben Affleck e Rosamund Pike (ela é especial) fazem bons papéis. Também gostei da ridicularização da "informação" televisiva -- a "tragédia da praia do meco" em tratamento exponencial de estupidez. 
Ver o início para recordar no fim -- talvez o melhor de todo o filme. 






como chapas de vintém

«Nesse comenos, sentiu-se observado: um sujeito franzino, dos seus cinquenta anos,  estava no passo da porta, a mirá-lo com olhinhos piscos e pisados como chapas de vintém.»

Jorge Reis, Matai-vos Uns aos Outros (1962) 

sábado, outubro 04, 2014

LES PLAGES D'AGNÈS / AS PRAIAS D'AGNÈS, Agnès Varda (2008)






Um autodocumentário. Regresso ao passado, através duma genial manipulação (no bom sentido) de imagens que resgatam uma memória pessoal.

sexta-feira, outubro 03, 2014

dos pequenos sismos

Versão de Jorge de Sena, creditada às suas «Obras», com uma magistral «Introdução», apanágio dos trabalhos críticos e ensaísticos do grande escritor.
A poesia de Emily Dickinson (1830-1866) é breve, por vezes quase aforística, e essencial, lembrando, em certas ocasiões -- e embora mais negra -- a de Sophia de Mello Breyner Andresen.
A biografia de Emily Dickinson pouco mais regista além da vivência sem história ("Great Streets of silence led away / To Neighbourhoods of Pause", c.1870)  numa pequena cidade da Nova Inglaterra, ao contrário duma tumultuosa inquietação interior, que surge a cada passo ("This is my letter to the World / That never wrote to Me", c.1862) : as interpelações descrentes a Deus ("Heavenly Father [...] / We apologize to thee / For thine own Duplicity --" c.1879); a incómoda rasura da diferença ("Assent -- and you are sane -- / Demur -- you're straightway dangerous -- / And handled with a chain -- ", c.1862); a ausência do amor ("Wild Nights -- Wild Nights! / Were I with thee / Wild Nights should be / Our luxury!", c.1861)."Your thoughts don't have words everyday", escreveu num apontamento, por volta de 1861, reflectindo esse acontecer do(s) poema(s) por entre a verdejante calma aparente numa casa de família em Amherst, Massachusetts, em que viveu praticamente na obscuridade e ignorada dos seus contemporâneos. 
Há mais mundo na cabeça dum grande poeta do que em qualquer grand tour que um medíocre de ontem e de hoje possa fazer.

quinta-feira, outubro 02, 2014

ainda a algibeira da avó Francisca

«Noutra divisão da prodigiosa algibeira, cabiam as deliciosas línguas-de-gato, biscoitos de Valongo, rosquilhos de Lousada, que nos tornavam mais lambões que obedientes, petisqueiros de tantas guloseimas, havendo de acrescentar-lhes, para nosso regalo, os ladrilhos de marmelada, copinhos de geleia e o arroz doce guardados no armário da copa, travessa de aletria nos domigos, com dois corações pintados a canela que a Joaquina cozinheira garantia serem da avó Francisca carolina e do neto João Maria!»

João Sarmento Pimentel, Memórias do Capitão (1967)

os presidentes usurpadores e o antifascismo pateta

Parece que o Parlamento vai homenagear a República com uma exposição de bustos de todos os presidentes das ditas (I, II e III Repúblicas). A II República, mais conhecida por Estado Novo, deu três para o ramalhete. Três usurpadores, diga-se, pois a participação em simulacros eleitorais que mais não foram do que acções políticas fraudulentas, retirou a Carmona, Craveiro Lopes e Thomaz qualquer legitimidade para o exercício da chefia do Estado.
O caso de Américo Thomaz é especialmente gritante e criminoso. Felipe II (I de Portugal) teve mais legitimidade como chefe do Estado do que Thomaz, que não teve nenhuma. De tal forma, que o cagaço de Salazar com o Humberto Delgado suscitou(-lhe) uma revisão constitucional, em que o PR deixou de ser eleito por sufrágio universal para passar a sê-lo por colégio eleitoral.
Dito isto: expõem-se cem anos de República. O que se faz com presidentes usurpadores e ilegítimos? Varrem-se para debaixo do tapete da História? Não conheço o teor da exposição, mas duvido que seja glorificadora, caso contrário não é uma exposição mas uma acção (canhestra) de propaganda.

Uma ressalva, em tempo: é claro que não me refiro aos resistentes, quando falo em patetice, gente que me merece o maior respeito, mas a certos pinto-calçudos, quase de calções ainda hoje, bradando...

quarta-feira, outubro 01, 2014

1 de Outubro de 1914

fonte
Em "carta lepidóptera" Alfredo Guisado entra no jogo dos heterónimos com Pessoa. Estivera com Caeiro no parque de Mondariz, na Galiza (Guisado era galego...)

«[...] Estivemos falando um pouco. É um indivíduo deveras esquisito. 
Desejaria até que você ou o Sá-Carneiro o conhecesse. Falámos de poetas novos.
Citei-lhe o seu nome e o do Sá-Carneiro, dizendo-me que ele que já os conhecia e que embirrava imenso com a nova escola. Recitei-lhe versos seus e do Sá-Carneiro e o homem parece que não gostou muito, por isso não lhe falei nos meus (versos).»

Fernando Pessoa, Correspondência Inédita
(edição de Manuel Parreira da Silva;
actualização ortográfica minha)

nota de leitura: «Psicopatologia da Vida Quotidiana», de Sigmund Freud (1904)

Um tratado sobre as incidências do lapso, do esquecimento, da ilusão da memória -- daquilo a que o senso comum assimilou no último século como acto falhado, nas pessoas cujo comportamento é considerado normativo, e nos quais Freud identifica variadíssimas razões para a intervenção do subconsciente nessas armadilhas quotidianas.
Houve dois aspectos que me impressionaram enquanto leitor leigo: primeiro, a coragem do autor em dar-se a si próprio como exemplo, em numerosas ocasiões; e as múltiplas vezes em que esses exemplos foram recolhidos na Literatura, evidenciando que, antes da psicanálise, os escritores (os poetas, na expressão de Freud) já haviam intuído que por detrás de acções e comportamentos aparentemente anódinos ou acidentais com desfechos dramáticos, poderia haver uma intenção inconsciente