domingo, abril 27, 2014

Vasco Graça Moura

Portugal perdeu hoje um dos seus maiores. Como poeta, foi um dos mais significativos do seu tempo, cujo estro era suficientemente intenso para impedir que a cultura vasta e sólida afogasse a poética em eruditismo estéril. Será sempre um autor a ter em conta em qualquer antologia do tempo que lhe coube. Enquanto crítico e ensaísta, ombreia com os grandes, sendo também um respeitadíssimo camonista. Acresce uma contínua actividade de tradutor, aclamado pelas versões que realizou de Shakespeare e Dante, entre muitas outras.
Do maior relevo, dentre as muitas funções públicas que desempenhou, foram a direcção editorial exemplar da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, e o brilho com que presidiu à Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Num e noutro lugar, o seu desempenho foi reconhecido e louvado por todos os quadrantes politico-ideológicos, e a acção que aí realizou deixou frutos, prolongando-se pelo tempo futuro. E foi, como se sabe, o mais combativo adversário do famigerado Acordo Ortográfico, contra o qual se bateu inteligente e denodadamente, sem que o tolhesse a pesada e desesperante inércia duma sociedade que passava tranquilamente ao largo das preocupações e dos interesses duma vida: a literatura e a história de Portugal. 

6 comentários:

beatriz j.a. disse...

Não sabia que ele tinha morrido... que pena.

Ricardo António Alves disse...

Era já esperados, infelizmente.

Carla disse...

O problemas das antologias é darem um conhecimento limitado, embora dêem algum, e eu ainda não li nenhum livro dele de fio a pavio. Mas tenho as traduções de Dante como referência (só não tenho os livros porque os emprestei e... bem, lá se foram).

Durante muito tempo discordei das suas opiniões sobre o AO90, deve ter sido uma espécie de justiça poética, mas ontem dei por mim a repensar o que lhe li sobre o dito e a tender para a concordância.

De qualquer das formas, senti hoje a sua morte como uma grande perda e a verdade é que me deixou triste.

Paulo Ferrero disse...

Belo texto, Ricardo, grande perda :-( Abraço

Ricardo António Alves disse...

Carla, eu gosto muito de antologias, quer sejam abrangentes, procurando dar a conhecer um período específico ou mesmo toda a história, nas suas linhas-de-força; também gosto de antologias temáticas (até já co-organizei uma); e ainda das antologias elaboradas por determinados autores, através das afinidades por eles identificadas.
Quanto ao VGM, recomendo muito o «Laocoonte -- Rimas Várias, Andamentos Graves», publicado na Quetzal, entre outros possíveis.
Quando uma pessoa como ele, que ocupou intensamente o espaço público com aqulea qualidade, desaparece, deixa-nos sempre tristes.

Ricardo António Alves disse...

Paulo, meu velho, obrigado pelo elogio.
Abraço