sábado, novembro 29, 2008

sexta-feira, novembro 28, 2008

O meu EEF - dia 6

35 Rhums, de Claire Denis (França). Uma história de pai e filha que vivem juntos e cuidam um do outro. Por muito que se queiram, a vivência está condenada. É da ordem natural das coisas as crias deixarem o ninho. Realização muito segura.
Pitoresco: as delícias da dupla legendagem: a certa altura, num contexto trágico, o protagonista exclama «Putain!». Na dupla fieira de legendas em baixo: a italiana: «Madonna!»; a inglesa: «Fuck!»


Rachel, Rachel, de Paul Newman (1968). O único filme que vi do ciclo que lhe foi dedicado, enquanto realizador -- e do melhor que me foi dado ver em todo o festival. Rachel, professora primária, filha de um cangalheiro, entretanto falecido, é uma daquelas raparigas que vai ficando para amparo de mãe. O papel de filha vai-se diluindo com o de ama (para não dizer criada), com o seus deveres, horários e exigências. Ao mesmo tempo, a vida de Rachel vai-se escoando, sem outras recordações senão as reminiscências mortuárias da actividade paterna. Joanne Woodward, no papel de Rachel, está jubilosa, filmada com uma intensidade e penetração a que não será alheio a circunstância de a actriz e o realizador serem marido e mulher.




O Vale do Riff - Hank Jones, «Willow Weep For Me»

acordes nocturnos

quinta-feira, novembro 27, 2008

O meu Estoril Film Festival - dia 5

Pranzo di Ferragosto, de Gianni Di Gregorio. Na véspera do feriado do 15 de Agosto, Gianni, que vive com a sua velha mãe, vê-se a braços com mais três anciãs: a mãe e a tia do administrador do condomínio, que se oferece para pagar-lhe as contibuições em atraso, livrando-o de uma acção em tribunal, em troca de aquele acolher as velhinhas durante o feriado; e a mãe do seu médico, que lhe pede o especial favor. Todos querem desopilar, sem levar as velhotas atrás... É uma comédia ternurenta, muito bem apanhada pelo realizador -- que também desempenha o papel principal --, tendo escolhido para contracenar senhoras que nunca haviam representado. O resultado é surpreendente. Não menos surpreendente foi ver, repetidamente, o D'Artagnan traduzido por Dartacão, numa cena em que Gianni lia à mãe uma passagem d'Os Três Mosqueteiros.



Redbelt, de David Mamet (fora de competição). Mike é um mestre de jiu-jitsu que pauta a sua vida pelos códigos éticos que a disciplina lhe incutiu. Uma situação fortuita acabará por arrastá-lo para um meio em que impera a venalidade e a desonra. Não se deixar sujar, apesar de todas as adversidades, é o seu desafio fundamental. Um belo filme.

O Vale do Riff - Ray Brown, «Black Orpheus»

quarta-feira, novembro 26, 2008

o meu Estoril Film Fest - dia 4

Dia fracote, para mim.
Tatil Kitabi (o livro de exercícios para as férias grandes), do turco Seyfi Teoman. Não se trata da Turquia turística, nem da glamorosa ou sequer da pitoresca, mas duma Turquia demasiado vulgar e cinzenta, de todos os dias. Foi essa vulgaridade da vida de todos os dias que o realizador quis filmar. Esta é a maior qualidade deste «Livro de Verão», mas nela está também a sua fragilidade. O comerciante ganancioso, a mulher doméstica, o filho mais velho em crise, o mais novo deambulando em férias num mundo que não está à sua medida. Disso se recente o filme, real quotidiano que se torna desesperante na sua quase impassibilidade.
Bem ao contrário, Shultes, outra produção russa do também georgiano Bakur Bakuradze. Um caso visto de amnésia na sequência de um acidente que torna alguém "normal" -- neste caso, um atleta -- num carteirista que deambula como um fantasma, tentando reconstruir-se. O protagonista é gélido, e o filme também.

O Vale do Riff - Pink Floyd, «Let There Be More Light»

terça-feira, novembro 25, 2008

O meu Estoril Film Festival '08 - dia 3

4 Copas, de Miguel Mozos. O pai, a filha, a madrasta, o amante de ambas. Nada de muito relevante. Boas interpretações de Rita Martins, João Lagarto e, em especial, Margarida Marinho.
Dikoe Pole («Wild Field», na tradução inglesa). Produção russa realizada pelo georgeano Mikhail Kalatozishvili. Filmado no Cazaquistão, a 80 quilómetros da fronteira com a China. Um jovem médico exerce na estepe, sem um mínimo de condições para a prática da sua profissão. Os pacientes são cazaques camponeses, criadores de cavalos. Uma dose muito afinada de humor, dramatismo e inverosimilhança. Fotografia deslumbrante. Grande ovação da sala, prenunciando o Grande Prémio do EFF, que viria a receber. Diálogo vivo do público com o realizador e o jovem actor principal (na foto) Oleg Dolin. Prémio merecido.

O Vale do Riff - The Bee Gees, «Spicks And Specks»

segunda-feira, novembro 24, 2008

o meu Estoril Film Festival - dia 1


Retrospectiva de Bertolucci. Cinema, sexo e revolução. Lamento não ter podido rever La Luna (1979) e a espantosa Jill Clayburgh, filme gamado, juntamente com O Último Imperador (1987), há cerca de 18 anos, quando me assaltaram a casa. Também não me importaria de ter revisto The Dreamers (2003), ou o épico Novecento (1976). Fiquei-me por dois, logo neste primerio dia.
Tive azar com o Partner (1968), história dum intelectual com a personalidade desdobrada em homem de acção. Demasiado datado, provocador há 40 anos, vê-se hoje com enfado.
Ao contrário de O Último Tango em Paris (1972), que se aguenta muito bem. Não propriamente pela transgressão, mas pelo que de permanente regista de encontros e desencontros. Marlon Brando está soberbo, e a música de Gato Barbieri fica-lhe colada. Vi-o, curiosamente, na mesma sala, muito anos depois.

O Vale do Riff - Joan Baez, «Forever Young»

domingo, novembro 23, 2008

homenagens a Nicot

Lucky Luke

Fernando Pessoa arca com o país

Deslocalizado para o Festival de Cinema do Estoril, não pude anotar em devido tempo mais esta anedota que o país nos prega: deixaram ir a mítica arca de Fernando Pessoa para mãos particulares -- um objecto palpável e bem visível que faria todo o sentido na casa do dito. Mas o chamado dossier Crawley (um charlatão insignificante que se dizia mago), estudado por autores sérios e rebuscado por toda a espécie de fauna esotérica, esse não podia perder-se. O ministro e o director da BN, ouviram, diz-se, especialistas. E o especialismo deu nisto. Que miséria, que miséria...

cartoon - Tex Avery

Andy Panda & Woody Woodpecker / Pica-Pau, «Knock Knock» (1940)

sábado, novembro 22, 2008

quarta-feira, novembro 19, 2008

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. / Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Carlos Drummond de Andrade

O Vale do Riff - Chet Atkins & Eric Johnson, «Somebody Loves Me Now»

um homem são os homens que o acompanham
José Luís Peixoto

terça-feira, novembro 18, 2008

domingo, novembro 16, 2008

capismo

capa de João Nascimento para A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells
Unibolso-Editores Associados, Lisboa, s.d.

Antologia Improvável #341 - Aluízio Medeiros

POÉTICA

Poderia dizer que sou um Deus;
que as estrêlas aureolam a minha cabeça imaginativa;
que a todo o instante posso criar
tantos mundos ao sabor dos meus desejos.

Poderia dizer que sou um Deus;
que um gesto meu é capaz de multiplicar os pães
que as multidões mastigarão sofregamente;
que todos os homens vêm para a adoração do meu poder [ilimitado.

Poderia dizer que sou um Deus;
que faço surgir nos desertos os trigais ondulantes;
que uma simples palavra minha provoca a fraternidade
entre os homens que se abraçam com um sorriso no rosto.

Mas sou, como os outros, telúrico e humano,
uso o silêncio da galocha, grito,
trabalho e sinto fome, oceânico e lúbrico,
ando com a barba por fazer.

Os Objetos / A Nova Poesia Brasileira
(edição de Alberto da Costa e Silva)

cartoon - William Hannah & Joseph Barbera

Tom & Jerry, «Polka-Dot Puss» (1949)

sábado, novembro 15, 2008

caderninho



A partir de um certo ponto já não há regresso. Há que atingir este ponto. Franz Kafka
«Aforismos» (tradução de Álvaro Gonçalves)

sexta-feira, novembro 14, 2008

O Vale do Riff - Especial Louis Armstrong

«What A Wonderful World». Não é jazz. Pois não será, mas não faz mal. Armstrong canta-a e faz dela uma das melhores músicas de sempre.
1.ª postagem: 25 de Outubro de 2007.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Figuras de estilo - Raul Brandão

O céu é de todos e este mundo de quem mais apanha! Aqui em baixo só há uma felicidade, o dinheiro. O resto são poesias...


A Farsa

O Vale do Riff - Especial Louis Armstrong

«Umbrella Man». Dizzy Gillespie com Louis Armstrong, com scat pelo meio, improviso cantado inventado pelo segundo.
1.ª postagem: 15 de Fevereiro de 2007.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Vida / -- morte do avesso / sem fim nem começo.
José Gomes Ferreira

O Vale do Riff - Especial Louis Armstrong

«Now You Has Jazz», música do grande Cole Porter, para os não menos grandes Louis Armstrong e Bing Crosby, o crooner por excelência. Do filme «High Society» (1956).
1.ª postagem: 12 de Dezembro de 2006.

terça-feira, novembro 11, 2008

caderninho



Aquele retrato olhava e parecia falar. Só lhe faltava tossir. Ramón Gómez de la Serna
Greguerías (tradução de Jorge Silva Melo)

O Vale do Riff - Especial Louis Armstrong

«Basin Street Blues». Pops canta a sua cidade natal na longínqua Estugarda, em 1959. O vigor na tompete (vejam como ele se faz à trompete), que o obrigava, nos anos vinte, quando ele gravava com King Oliver, a tocar mais afastado do microfone, para que os outros se fizessem ouvir....
1.ª postagem: 29 de Setembro de 2006.

segunda-feira, novembro 10, 2008

acordes nocturnos


imagem

Antologia Improvável #340 - Fernando Grade (3)

FALA DO ADVOGADO ENQUANTO DON JUAN

Só fico satisfeito
quando as partes se beijam.


Os Meus Olhos Pegaram em Facas

O Vale do Riff - Especial Louis Armstrong

Os All Stars tocando «Muskrat Ramble». Jazz de Nova Orleães, terra natal de Satchmo. Edmond Hall sola no clarinete e Trummy Young no trombone.
Primeira postagem: 13 de Maio de 2008.

domingo, novembro 09, 2008

recapitulação de Louis Armstrong

toda esta semana, n'O Vale do Riff

uma tarde no Rossio

Ontem fomos ao Coliseu, ver a Rua Sésamo. No breve percurso entre a saída do metro no Rossio até à casa das Portas de Santo Antão, Lisboa apresentava-se como eu dela gosto: uma luminosidade ainda persistente no caminhar para o lusco-fusco, uma temperatura tépida que convidava a passear na rua e a sentar na esplanada, o velho comércio paredes meias com casas novas (uma delas a vender livros velhos, na qual entrei e ainda pude comprar, por um euro, duas peças do brasileiro Márcio Souza), gente de todas as paragens: alfacinhas como nós, imigrantes africanos, indianos, do Leste europeu, turistas, uma babel de idiomas que me agrada imenso. Ao lado, os professores juntavam-se e vociferavam. A meio do caminho, posto-me pela primeira visita diante do memorial ao cruel massacre dos judeus em 1506, cuja petição para que se tornasse realidade me orgulho de ter assinado. Atrás, um pouco desviada para a direita, a nefanda igreja de São Domingos, donde saíam os condenados à fogueira pela Inquisição. E de repente, toda aquela harmonia, toda a placidez que sentia com a minha família naquele fim de tarde se turvou, em face desse edifício esmagador, de significado histórico ignominioso. Felizmente, uns quantos indianos ou paquistaneses -- ou o que fossem --, encostavam-se ao memorial, com toda a descontracção, provavelmente não sabendo do seu significado -- ou sabendo-o mas encarando-o com a normalidade com que eu passo pela estátua de D. Pedro I, de António Duarte, aqui em Cascais. E ainda bem, pois o alheamento aparente desses estrangeiros, falando descontraidamente o seu idioma, introduziu uma nota de normalidade num ambiente que para mim de repente ficara malsão.
Gravura polaca ilustrando a "Matança da Páscoa",
como também ficou conhecido o massacre de 1506,
e o memorial recentemente erguido

música conversável

Steve Lacy e o sax soprano:

acordes nocturnos

imagem

sábado, novembro 08, 2008

cartoon - Jack Hannah

Donald & Goofy / Pateta, «No Sail» (1945)
não sei se seria musa / se corpo de pernoitar
Luís Amorim de Sousa

O Vale do Riff - Tori Amos, «Crucify»

quinta-feira, novembro 06, 2008

acordes nocturnos


fonte

Antologia Improvável #339 - José Carlos González (2)

Antes das pontes os rios
Antes dos castelos águias
Que levantadas bem altas
São as deusas das escarpas.

Antes do fruto uma onda
De incenso de primavera
De cavalos debandados
Por anos de tanta espera.

Antes de tudo ser ouro
No alambique escondido.

Acordar de noite acesa
Vertical hora ser vivo.


No Alambique Escondido

O Vale do Riff - The Kinks, «Lola»

quarta-feira, novembro 05, 2008

homenagens a Nicot

Barack Obama

Barack Obama

Um homem superior. Ganhou estas eleições, apesar de ser negro. Ganhou-as pelas suas qualidades de inteligência, argúcia, fleuma, carisma e, em grande parte, convicções. Não se apresentou como um candidato de minorias e exaltou o que de melhor o seu país tem: a capacidade de iniciativa e os valores democráticos.
Teve um adversário à altura, do melhor que os republicanos poderiam apresentar, depois de uma negra folha de serviços de oito anos, manchada pelo crime e pelo sangue. À altura, mas demasiado ansioso pelo poder. A escolha duma avantesma (há avantesmas giras...) para vice-presidente não oferece dúvidas.
Ele bem precisará de todas as suas enormes qualidade para lidar com um mundo que o país que agora o consagra deixou à beira do caos.
Ganhou apesar de ser negro. Não é pouco. Presumo que ontem terão votado alguns velhos, filhos de escravos, ainda...

O Vale do Riff - The Band, «I Shall Be Realesed»

segunda-feira, novembro 03, 2008

caderninho

Há certas coisas que, sendo medíocres, se tornam insuportáveis: a poesia, a música, a pintura e os discursos públicos. La Bruyère
Os Caracteres (tradução de João de Barros)

O Vale do Riff - Diana Krall, «All Or Nothing At All»

estampa CXLIV

António Pedro, Intervenção Romântica
CAMJAP-Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

domingo, novembro 02, 2008

sábado, novembro 01, 2008

homenagens a Nicot

Joaquim Gomes Mota
um amor acaba no vazio de um olhar
José Jorge Letria

cartoon - Robert McKimson

Daffy Duck & Porky Pig, «Fool Coverage» (1952)